terça-feira, 5 de julho de 2011

O Primeiro Escritor da Umbanda! LEAL DE SOUZA

 LEAL DE SOUZA
 
Leal de Souza em 1913.

No período de 1984 a 1990 fiz, acompanhado de Edison Cardoso de Oliveira, quatro
visitas à Tenda Nossa Senhora da Piedade, instalada na época à Rua Dom Gerardo, 51, na
cidade do Rio de Janeiro, e duas visitas à Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato,
Cachoeiras de Macacu – RJ.
Na primeira visita, em 1984, o meu Pai Espiritual Ronaldo Antônio Linares, recebeu das
mãos de Dona Zilméia de Moraes uma cópia do livro O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas
de Umbanda, de Leal de Souza, publicado em 1933. Pai Ronaldo cedeu-me, então, uma cópia
deste precioso material que para nós, durante muito tempo, era o primeiro livro que falava de
Umbanda. Dois capítulos desse livro foram publicados, em 1986, na primeira edição da obra
Iniciação à Umbanda.
Em agosto de 2008, quando estava terminando de escrever o livro Umbanda Brasileira:
um século de história consegui um raro exemplar da obra No Mundo dos Espíritos, publicado
em 1925, do mesmo autor. Este sim é o primeiro livro que trata da Umbanda.
Pouco se sabia, no mundo umbandista, da vida de Leal de Souza até então. Iniciei uma
pesquisa, por intermédio da Internet, e consegui algumas referências de autores que
escreveram sobre ele. Comecei, então, uma busca em “sebos” pelo Brasil afora e consegui
vinte preciosos livros, além de três outras obras de Leal de Souza. Para minha surpresa, um
poema seu, Morte e Encarnação, foi psicografado por Chico Xavier e publicado no livro
Antologia dos Imortais, obra mediúnica, de 1963, que trata da imortalidade da alma.
Transcrevo a seguir o poema:

Morrer!... Morrer!... A gente crê que esquece,
Pensa que é santo em paz humilde e boa,
Quando a morte, por fim, desagrilhoa
O coração cansado posto em prece.
Mas, aí de nós!... A luta reaparece...
A verdade é rugido de leoa...
A floração de orgulho cai à toa,
Por joio amargo na Divina Messe.
No castelo acordado da memória
Ruge o passado que nos dilacera,
Quando a lembrança é fel em dor suprema...
Sempre distante o céu envolto em glória,
Porquanto em nós ressurge a besta fera
Buscando, em novo corpo, nova algema.

Com este material coletado escrevi o livro Antônio Eliezer Leal de Souza: o primeiro
escritor da Umbanda, que procura resgatar, pelo menos em parte, a vida pessoal e literária
deste brilhante escritor que teve papel de destaque no parnasianismo, onde Olavo Bilac foi a
figura mais importante, no jornalismo carioca e na literatura espírita e umbandista. Foi um
defensor e praticante dedicado do Espiritismo e da Umbanda, tendo feito conferências na
Federação Espírita Brasileira e convivido, durante vinte e três anos, com Zélio de Moraes e o
Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Antônio Eliezer Leal de Souza nasceu em Livramento (antiga Santana do Livramento),
Rio Grande do Sul, em 24/12/1880 (algumas fontes apontam a data de 24/09/1880). Quando
jovem, foi Alferes e participou da Guerra de Canudos. Cansado de sofrer prisões por combater
o governo de Borges de Medeiros, desligou-se do quartel. Ao desligar-se do Exército, dedicou-se
ao jornalismo, tendo sido redator de A Federação de Porto Alegre. Em 1900 foi para o Rio
de Janeiro, onde cursou Direito, sem concluí-lo, porém. Nessa mesma cidade, teve destaque
como secretário e repórter dos periódicos Careta, A Noite, Diário de Notícias e A Nota. Como
repórter deu o furo sobre o assassinato de Euclides da Cunha.
Frequentava a roda literária formada por Olavo Bilac, Martins Fontes, Coelho Neto, Luis
Murat, Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e outros.
Leal casou-se, em 03/10/1918, com Gabriella Ribeiro Leal de Souza. Além de poeta,
escritor, ensaísta, critico literário, conferencista e jornalista, foi também tabelião.
Em uma de suas entrevistas, no final de 1974, Zélio de Moraes faz referência à presença
espiritual de Leal de Souza:
Pois bem, nessa ocasião em que o Caboclo se manifestou, ele fez uma porção de
referências do que ia acontecer e infelizmente tem acontecido. Nós estamos perto de 75 e
assistimos também alguma coisa pra chamar essa humanidade a acreditar num Deus
poderoso, num Deus criador e nós devemos vencer com a Umbanda. Aqui estão o Dr.
Meireles, Capitão Pessoa, Leal de Souza, Bandeira, salve, são eles que me acompanham, me
ajudam na terra, estão no espaço e também estão me ajudando, por isso eu solicito. Anísio
também. Salve.
Em outra entrevista, em 1971, o Caboclo das Sete Encruzilhadas citava também Leal de
Souza:
Veio então mais tarde a formação de um jornal de propaganda para a nossa Umbanda,
aí contamos com o secretario da Tenda, Luiz Marinho da Cunha, contamos com Leal de Souza
e outros que eram fervorosamente espíritas pelas coisas que ele sentia e pelas coisas que ele
recebeu, das graças de Deus, transmitidas por nós a sua pessoa.
Leal de Souza dirigiu a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das sete
tendas mestras responsáveis pela implantação da Umbanda no Brasil. Conforme informações
do nosso irmão Eder Longas Garcia, essa tenda foi fundada, em 1918, pela Senhora Gabriela
Dionysio Soares, que por problemas pessoais não pode continuar a frente da tenda. Após isso
Zélio de Moraes determinou a Leal de Souza que assumisse a direção dos seus trabalhos.
Leal ousou escrever sobre Umbanda, em um jornal de grande divulgação do Rio de
Janeiro, em 1932, em plena repressão da Ditadura Vargas. Foi o primeiro umbandista que
enfrentou a crítica feroz, ostensiva e pública, em defesa da Umbanda.
Isso aconteceu em uma época em que era quase um crime de heresia falar de tal
assunto. Foi também o precursor de um ensaio de codificação, ou melhor, foi o primeiro que
tentou definir, em diversos artigos, o que era Umbanda ou o que viria a ser no futuro esse outro
lado que já denominava de Linha Branca de Umbanda e Demanda. Nessa época, para os
fanáticos religiosos e espíritas sectaristas, tudo era apenas macumbas...
Leal de Souza viveu em uma época atribulada da política brasileira e, como jornalista,
envolveu-se em confrontos com muitos políticos e personalidades. Talvez por isso as suas
memórias foram relegadas a um plano inferior na história dos escritores brasileiros. Isto
dificulta a pesquisa sobre a sua profícua vida.

Diversos escritores que escreveram sobre o poeta Leal de Souza: Jorge Rizzini,
Fernando Góes, Klaus Becker, Fernando Jorge, Luis da Câmara Cascudo, Chico Xavier, Emilio
de Menezes, Humberto de Campos, Oscar Quevedo, Mário Matos, Alcides Maya, Brito Broca,
Roger Bastide, João de Freitas, Raimundo Menezes, Marlene Medaglia Almeida, Carlos
Drummond de Andrade, D. L. de Macedo, W. W. da Matta e Silva, Horácio Cartier, Fernando
Py, Gustavo Barroso, Antonio Dimas, Maria de Lourdes Eleutério, Carvalho Netto, Afrânio
Coutinho, João Fontoura, João Pinto da Silva, Anísio Rocha, Gonzaga Duque, Manuel
Bandeira, Agrippino Grieco, Lima Barreto, Hercules Pinto e Walter Spalding. Até o Presidente
Getúlio Vargas escreveu sobre ele (Diário de Getúlio Vargas).
Leal de Souza publicou as seguintes obras:
* O Álbum de Alzira (Porto Alegre, 1899)
* Editou, em Santa Maria (RS), 1915-1917, o Almanaque Regional 
* Bosque Sagrado (Rio de Janeiro, 1917) 
* A Mulher na Poesia Brasileira (Rio de Janeiro, 1918) 
* A Romaria da Saudade (Rio de Janeiro, 1919) 
* Canções Revolucionárias (Rio de Janeiro, 1923) 
* No Mundo dos Espíritos (Rio de Janeiro, 1925) 
* O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas da Umbanda (Rio de Janeiro, 1933) 
* A Rosa Encarnada – romance espírita (Rio de Janeiro, 1934)
* Getúlio Vargas (Rio de Janeiro, 1940) 
* Transposição dos Umbrais (opúsculo editado pela Federação Espírita Brasileira, editado
em 1941, sobre a conferência proferida na mesma federação em 1924, Rio de Janeiro)
 
fonte:Jornal Nacional da Umbanda São Paulo, 25 de Janeiro de 2011. Edição Especial 01

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