Doutrina Espírita
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A Doutrina Espírita, espiritismo ou kardecismo, segundo a definição de seu codificador, o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail - que adotou o pseudônimo Allan Kardec - é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. O termo mais apropriado para designar esta doutrina é a denominação espiritismo, conforme orientação expressa no primeiro livro da codificação da doutrina, O Livro dos Espíritos. Já o termo "kardecismo" foi introduzido por parte dos seus seguidores como forma de distinguí-la de outras crenças e religiões existentes, principalmente no Brasil, sendo, entretanto, sob a luz do próprio Espiritismo um termo equivocado, já que poderia induzir ao entendimento de que o papel de Allan Kardec extrapola os limites da codificação e sistematização didática dos ensinamentos da Doutrina ou que existam várias correntes de pensamento dentro do espiritismo.
É importante ressaltar ainda que, quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria é, por definição, espiritualista, independente de sua religião, sendo, portanto, o espiritualismo enquanto oposição ao materialismo, o pilar fundamental da maioria das doutrinas religiosas.
No caso do Espiritismo, a principal diferença entre esta doutrina e a maioria das demais religiões é sua crença na possibilidade de comunicação entre o mundo corporal e o mundo espiritual, contudo, a fé nesta possibilidade de comunicação gera grande confusão por parte dos leigos entre o Espiritismo e as religiões afro-brasileiras, contudo, cada uma delas possui origens completamente distintas umas das outras.
Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, o Espiritismo se estruturou a partir de diálogos estabelecidos por espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram sobre temas religiosos sob a ótica da Moral Cristã, ou seja, tendo por princípio o amor ao próximo. Desta forma foi estabelecido o preceito primário da Doutrina, de que só é possível buscar o aprimoramento espiritual através da caridade aos semelhantes (Lema: Não há salvação fora da caridade), além de trazer a luz novas perspectivas sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica.
O Espiritismo se caracteriza pelo ideal de compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a moral. Segundo Kardec, cada uma delas, tomada isoladamente, tende a conduzir a excessos de ceticismo, negação ou fanatismo. A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.
A doutrina espírita adota a Moral cristã, apesar de suas concepções teológicas diferenciadas. Para os espíritas, nome dado aos seguidores do Espiritismo, Jesus Cristo se trata do espírito mais elevado a já ter encarnado na Terra, bem como o modelo de conduta para o auto-aperfeiçoamento humano, tendo provado, pela prática da caridade absoluta e pela sua própria encarnação, que o homem pode suportar as provas necessárias para a sua elevação espiritual.
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Princípios
Allan Kardec, em "Obras Póstumas", propõe que o espiritismo seja uma doutrina natural, passível de ser interpretada ou não como religião pelos homens, isto é, capaz de colocar o homem – ou o espírito – diretamente em relação com Deus.
Para efeitos didáticos, os princípios foram situados na parte superior deste artigo por serem objeto de maior interesse ao público em geral que a história do espiritismo. Além disso, alguns leitores não visualizam o artigo inteiro e podem ter uma impressão completamente equivocada do termo, dada a peculiaridade de sua história. O termo sendo referenciado pela comunidade que o integra, deve ser evidenciado por sua essência e não pelas curiosidades, pois seria uma abordagem leviana e frívola.
A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos:
- Na existência e unicidade de Deus, desconstruindo o dogma da Santíssima Trindade;
- Na existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina;
- Na defesa da reencarnação como o mecanismo natural de aperfeiçoamento dos espíritos;
- No conceito de criação igualitária de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;
- Na possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade;
- Na Lei de Causa e Efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição é resultado de nossos atos passados;
- Na pluralidade dos mundos habitados, a ideia de que a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
- A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do Espírito;
- Progressividade do Espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
- Volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição. Os espíritas não creem na metempsicose.
- Ausência total de hierarquia sacerdotal;
- Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade nem o fazer visando a segundas intenções;
- Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita;
- Total ausência de culto a imagens, altares, etc;
- Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;
- Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.
Embora a Doutrina Espírita não seja oriunda do Brasil, este é o país que possui a maior quantidade de adeptos. A Federação Espírita Brasileira, que integra o Conselho Espirita Internacional, é a principal entidade divulgadora da Doutrina Espírita no Brasil. Outra organização de vulto é a Confederação Espírita Pan-Americana. Esta última não concebe o espiritismo como religião, centrando-se apenas nos seus aspectos filosóficos e científicos.
Obras básicas
A seguir são apresentadas algumas das principais obras publicadas por Allan Kardec, entre as quais encontram-se as chamadas obras básicas do espiritismo.
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, nele estão contidos os princípios fundamentais da Doutrina Espírita
Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas
Este livro foi publicado em 1858 por Allan Kardec, porém com uma pequena tiragem. Em vez de reeditá-lo, Kardec preferiu diluir o seu conteúdo nas novas edições d'O Livro dos EspíritosO Livro dos Médiuns. e, futuramente, em
O Que é o Espiritismo?
O livro O Que é o Espiritismo?, publicado em 1859, é uma introdução didática sobre a Doutrina Espírita.
O Livro dos Médiuns
O Livro dos Médiuns, ou "Guia dos Médiuns e dos Evocadores", foi publicado em 1861 e versa sobre o caráter experimental e investigativo do espiritismo, visto como ferramenta teórico-metodológica para se compreender uma "nova ordem de fenômenos", até então jamais considerada pelo conhecimento científico: os fenômenos ditos espíritas ou mediúnicos, que teriam como causa a intervenção de espíritos na realidade física.
Evangelho Segundo o Espiritismo
O livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, publicado em 1864, avalia os evangelhos canônicos sob a óptica da doutrina espírita, tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a prática da adoração, da prece e da caridade.
O Céu e o Inferno
O livro O Céu e o Inferno, ou "A Justiça Divina segundo o Espiritismo", foi publicado em 1865doutrina católica sobre a transcendência, procurando apontar contradições filosóficas e incoerências com o conhecimento científico superáveis, segundo ele, mediante o paradigma espírita da fé raciocinada. Na segunda, constam dezenas de diálogos que teriam sido estabelecidos entre Kardec e diversos espíritos, nos quais estes narram as impressões que trazem do além-túmulo. e compõe-se de duas partes: na primeira, Kardec realiza um exame crítico da
A Gênese
O livro A Gênese, ou "Milagres e as Predições segundo o Espiritismo", foi publicado em 1868 e aborda diversas questões de ordem filosófica e científica, como a criação do universo, a formação dos mundos, o surgimento do espírito e a natureza dos ditos milagres, segundo o paradigma espírita de compreensão da realidade.
Doutrina espírita e cristianismo
Os espiritistas (tradução muito usada durante as primeiras décadas do século XX para o neologismo francês spirite) ou espíritas, afirmam-se cristãos e atribuem à doutrina espírita o caráter de uma doutrina cristã, já que consideram seguir os ensinamentos morais de Jesus. Entretanto, essa associação entre o espiritismo e o cristianismo é contestada pelas religiões de matriz judaico-cristã, sob a alegação de que, embora partilhem de valores morais semelhantes, a rejeição espírita a diversos dogmas bíblicos e teológicos preconizados por elas inviabilizaria a conceituação do espiritismo como cristão.
Os espíritas fundamentam sua defesa do carácter cristão da doutrina espírita no fato de Allan Kardec defender que a moral cristã, isenta dos dogmas de fé a ela associados, seria o que de mais próximo a um código de ética divino e racional o homem possui. Os espíritas argumentam que os dogmas foram elaborados ao longo dos séculos pela Igreja Católica, não sendo, por isso, necessário segui-los para ser cristão. Além disso, o item 625 d'O Livro dos Espíritos afirma ser Jesus o maior exemplo moral de que dispõe a humanidade, apesar de o espiritismo negar a ele qualquer carácter efetivamente divino.
A professora Dora Incontri, pós-doutorada pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, também defende o caráter cristão da doutrina espírita, apontando, na proposta estruturada por Allan Kardec, um novo modelo de religião, alheio a dogmas, fórmulas, hierarquias sacerdotais e baseado eminentemente no aspecto ético-moral do indivíduo. Considera ainda Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi como os dois grandes precursores da ideia de uma "religiosidade natural", predominantemente moral, e defende que "evidenciou-se com a publicação de "O Evangelho segundo o Espiritismo" e de "O Céu e o Inferno" que, embora não o confessasse, ele [Kardec] estava fazendo uma nova leitura do Cristianismo".
Um estudioso da religiosidade brasileira mais cético, o Prof. Antônio Flávio Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, centra sua análise em aspectos sociológicos ao defender que o espiritismo não é uma religião legitimamente cristã. Segundo ele, os espíritas utilizam o cristianismo para se legitimarem. Pierucci defende também que o vínculo com a Igreja Católica, defendido pelos espíritas serviu, durante décadas, para lutar contra a discriminação e a intolerância.
O conceito bíblico
As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo Testamento, Deus interditou à antiga Israel as comunicações com o mundo dos espíritos e o uso de poderes sobrenaturais por eles concedidos. "… não haverá no meio de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14). Afirmam ainda que essa proibição é confirmada no Novo Testamento, pelas referências contidas nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos aos "espíritos impuros". A citação do apóstolo Paulo em Gálatas 5:20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou bruxaria, o termo grego usado é farmakía) … não herdará o Reino de Deus". (Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por "espiritismo". Mas esta aplicação da palavra não se refere, por óbvias razões cronológicas, à doutrina espírita). É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar outras doutrinas e cultos que não sejam aquela codificada por Allan Kardec.
Já para a doutrina espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, pois esta seria fundamentada em um fenómeno natural. A condenação bíblica, que também encontra apoio no movimento espírita, é a uso dos recursos mediúnicos para finalidades frívolas ou voltadas ao benefício próprio. Segundo ela, diversas passagens bíblicas exemplificariam a fenomenologia mediúnica, a exemplo de I Samuel 9:9, II Crônicas 16:7, e Mateus 17:1-8.
Ao mesmo tempo, a postura analítica da Doutrina Espírita propõe que se avaliem os textos bíblicos, quando verdadeiramente originais, de forma crítica, levando em conta o seu patamar simbólico, em função dos recursos vocabulares e figuras de linguagem disponíveis à época, em ensinamentos dirigidos a um povo simples e sem repertório, e, consequentemente, desprovido das complexidades e riquezas linguística, cultural e material necessárias para a compreensão de conceitos que nem mesmo o homem atual, como todas as suas aquisições intelectuais, é capaz de compreender em toda a sua profundidade.
O diálogo com as religiões
A posição oficial da Igreja Católica proíbe terminantemente aos seus fiéis assistir a sessões mediúnicas realizadas ou não com auxílio de médiuns espíritas - mesmo que estes pareçam ser honestos ou piedosos - quer interrogando os espíritos e ouvindo suas respostas, quer assistindo por mera curiosidade. Posições similares têm as religiões evangélicas.
No entanto, a Igreja Católica não nega a possibilidade física de comunicação com entidades espirituais. Em pesquisas recentes, sob a tutela do Papa João Paulo II, o Padre François Brune publicou o livro Os Mortos nos Falam, em que defende a realidade das comunicações com os espíritos. Além disso, principalmente no Brasil, é possível observar uma maior tolerância por parte de muitos leigos católicos às práticas mediúnicas.
Atualmente, muitas comunidades evangélicas, apesar de não concordarem com os preceitos teológicos e filosóficos do espiritismo, têm procurado, da mesma forma, manter com este uma relação respeitosa, por reconhecer nos trabalhos sociais desenvolvidos pelas casas espíritas uma atividade séria e comprometida. Algumas, inclusive, têm buscado uma aproximação concreta com as instituições espíritas, seja por meio da realização de cultos ecumênicos, seja através do diálogo inter-religioso.
A doutrina espírita, por sua vez, respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, embora rejeite firmemente, reitere-se, dogmas fundamentais das religiões monoteístas; no caso particular do cristianismo, destacam-se o da divindade de Cristo, o da Santíssima Trindade, o da salvação/justificação pela graça (mais que pelas obras/esforços individuais), e o da existência e importância da Igreja como entidade espiritual, não apenas humana. Por isso existe uma barreira muito dificilmente transponível entre os católicos tradicionais e os espíritas. O Espiritismo tem como máxima a frase "Fora da caridade não há salvação", o que significa que, em sendo benevolente e caridoso, qualquer um será gratificado, independentemente da sua crença - ao contrário do que creem os cristãos, que é a justificação pela fé em Cristo como Deus encarnado, e pelos Seus méritos, muito mais que pelas suas obras.
Contexto
Durante o século XIX houve uma grande onda de manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa. Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Entre eles destacou-se o caso das Irmãs Fox, nos EUA.
Em 1855, o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec, lançou-se à investigação do fenômeno, bastante comum à época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral pareciam animar-se de uma estranha vitalidade. Inicialmente cético, chegou a afirmar: "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, deem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para dormir em pé". Após dois anos de pesquisas, não viu constatação de fraudes e nem um motivo para englobar todos os acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices. Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também da possibilidade dele ser causado por espíritos, Rivail deu um passo adiante: em lugar de dedicar o resto de sua vida à busca por "provar cientificamente" a explicação mediúnica para os fenômenos, procurou extrair da possibilidade de que fossem causados pela ação de espíritos algo de útil para a humanidade.
A robusta formação humanística por que passara, bebendo diretamente de Pestalozzi, discípulo dileto de Rousseau, não poderia limitá-lo a uma pesquisa meramente naturalista. A necessidade de dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos despertou em Kardec a ideia de um novo modo de pensar o real, que unisse, de forma ponderada, a ascendente Ciência e a decadente Religião, mediadas pela racionalidade filosófica. Assim, Kardec fez uso do empirismo científico para investigar os fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos consequências ético-morais úteis para o ser humano. Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.
Primeiras observações
Os fenômenos mediúnicos são universais e sempre existiram, inclusive fartamente relatados na Bíblia, mas os espíritas e muitos outros defensores da explicação mediúnica para os chamados "fenômenos sobrenaturais" ou "paranormais" adotam a data de 31 de março de 1848 como o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e frequentes do que jamais ocorrera, o que levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos. Afirmam, contudo, que acontecimentos envolvendo espíritos (pessoas que já morreram) existem desde os primórdios da humanidade.
Entre outros, citam como exemplo os comentários de Platão ao falar sobre o dáimon ou gênio que acompanharia Sócrates; a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; e a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada em Mt, 17, 1-9.
Estudo sobre as mesas girantes
Segundo os biógrafos, Allan Kardec foi convidado por Fortier, um amigo estudioso das teorias de Mesmer, a verificar o fenômeno das mesas girantes com a disposição de observar e analisar os fenômenos que despertavam curiosidade no século XIX.
As primeiras manifestações tidas como mediúnicas aconteceram por meio de mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e respondendo, desse modo, sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão proposta.
Kardec, em analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de convincente neste método para os céticos, porque se podia acreditar num efeito da eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então. Foram então utilizados métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes corresponderia ao número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas.
Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito.
Fenômenos espíritas e a ciência
A investigação dos fatos e causas do fenômeno mediúnico é objecto de estudo pela Pesquisa Psíquica, ramo da parapsicologia (substituindo a metapsíquica), que tem como interesse fundamental a averiguação da ocorrência dos aludidos fatos. Vêm fazendo-se investigaçãouniversitário, mas até o momento sem qualquer evidência científica reprodutível. Também, a doutrina espírita utiliza uma metodologia científica própria, sem o rigor científico habitual e baseada muitas vezes em evidências anedóticas. séria e científica, e por vezes, em nível
Kardec, no preâmbulo de O que é o Espiritismo, afirma que o espiritismo "é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal". Dentro dessa perspectiva, Kardec teria fundado a "ciência espírita", tendo como objeto o espírito e toda a ordem de fenômenos que a ele dizem respeito. Na Revista Espírita, que publicou até sua morte, analisa vários relatos de fenômenos aparentemente mediúnicos ou sobrenaturais oriundos de diversas partes do mundo. Procurava distinguir, entre os relatos que lhe chegavam, os acontecimentos prováveis, ou pelo menos verossímeis, daqueles oriundos do charlatanismo ou da simples imaginação superexcitada.
Durante o século XIX, uma controversa forma de evidenciar a existência de espíritos era a chamada fotografia espírita, que obteve sucesso especial na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França. Fotógrafos amadores e profissionais dedicavam-se a ela, fosse com o intuito de desmascarar o que consideravam ser uma fraude, fosse para demonstrar a autenticidade do fenômeno. Apesar das muitas fraudes existentes, casos famosos como o do americano Mumler suscitam até hoje debates entre investigadores.
Para além dos aspectos doutrinários, existe uma diversidade de práticas que vêm suscitando nas últimas décadas uma crescente curiosidade - a ectoplasmia, psicocinesia, psicofonia, psicometria, levitação, telepatia, clarividência, precognição, via onírica (sonhos), psicografia, arte mediúnica, medicina e cirurgia mediúnica, apometria, radiestesia e rabdomancia. Mesmo após extensas investigações científicas, e debunks por James Randi, Harry Houdini e outros, nenhum desses fenômenos foi rigorosamente referendado até hoje pela metodologia científica.
O espiritismo no mundo
Conselho Espírita Internacional
O Conselho Espírita Internacional (CEI) é um organismo resultante da união das associações representativas dos movimentos espíritas nacionais. Foi constituído em 28 de novembro de 1992 em Madrid, na Espanha. Seus objetivos são:
- Promoção da união solidária e fraterna das instituições espíritas de todos os países e a unificação do movimento espírita mundial;
- Promoção do estudo e da difusão da Doutrina Espírita em seus três aspectos básicos, quais sejam o científico, o filosófico e o religioso;
- Promoção da prática da caridade material e moral, conforme ensina a Doutrina Espírita.
O principal evento organizado pelo CEI é o Congresso Espírita Mundial, realizado a cada três anos.
Confederação Espírita Pan-Americana
A Confederação Espírita Pan-Americana, fundada em 5 de outubro de 1946 na Argentina, é uma instituição internacional, que congrega majoritariamente espíritas da América Latina. A CEPA possui instituições adesas e filiadas em diversos países, e defende uma visão laica a respeito do espiritismo. A organização assume posicionamentos polêmicos entre os espíritas, como a desvinculação entre a doutrina e o cristianismo e a necessidade de se atualizar o espiritismo em face da ciência. Desde o dia 13 de outubro de 2000, a sede da CEPA passou a ser Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A atuação da CEPA no Brasil se dá, principalmente, através de eventos promovidos por instituições adesas, como o Fórum do Livre Pensar Espírita e o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.
No Brasil
Divulgado em praticamente toda a Europa no século XIX, o Espiritismo chegou ao Brasil em 1865. Teve através de Bezerra de Menezes e Chico Xavier a oportunidade de se popularizar, espalhando seus ensinamentos por grande parte do território brasileiro. Hoje, o país é o que reúne o maior número de espíritas em todo o mundo. A Federação Espírita Brasileira – entidade de âmbito nacional do movimento espírita – congrega aproximadamente dez mil instituições espíritas, espalhadas por todas as regiões do país. Atualmente, o Brasil possui 2,3 milhões de espíritas, de acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000. Com efeito, o IBGE trata os termos Kardecismo e Espiritismo como equivalentes em sua classifição censitária.Terceiro maior grupo religioso do País, os espíritas são, também, o segmento social que têm maior renda e escolaridade, segundo os dados do mesmo Censo. Os espíritas têm sua imagem fortemente associada à prática da caridade. Eles mantêm em todos os estados brasileiros asilos, orfanatos, escolascreches e outras instituições de assistência e promoção social. Allan Kardec, o codificador do espiritismo, é uma personalidade bastante conhecida e respeitada no Brasil. Seus livros já venderam mais de 20 milhões de exemplares em todo o País. Se forem contabilizados os demais livros espíritas, todos decorrentes das obras de Allan Kardec, o mercado editorial brasileiro espírita ultrapassa 4.000 títulos já editados e mais de 100 milhões de exemplares vendidos. para pessoas carentes,
Federação Espírita Brasileira
A Federação Espírita Brasileira foi fundada em 2 de janeiro de 1884, no Rio de Janeiro. Em 2004 completou 120 anos. É uma sociedade civil, religiosa, educacional, cultural e filantrópica, que tem por objeto o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo em todos os seus aspectos, com base nas obras da codificação de Allan Kardec e nos Evangelhos canônicos. O Departamento Editorial da FEB possui um catálogo de mais de 400 títulos que totalizam 39 milhões de livros vendidos. Todos inspirados na Codificação Kardequiana: romances, mensagens, contos, crônicas, textos científicos e filosóficos, além de CD-ROMs, vídeos, apostilas e CDs de canções espíritas.
Em Cuba
Após a legalização das religiões em Cuba, houve um renascimento do espiritismo, que vinha ocorrendo no país desde o século XIX.
Segundo dados do Ministério das Religiões, em Cuba, há 400 centros espíritas e mais 200 sendo registrados, tornando o país o segundo país mais espírita do mundo, por número de centros. A Associação Médico Espírita de Cuba é a com o maior número de militantes na Associação Médico-Espírita Internacional.