segunda-feira, 24 de junho de 2013

OS PRETOS VELHOS







São entre outros, espíritos de velhos africanos que foram trazidos para o Brasil como escravos e que trabalham na Umbanda como símbolos da fé e da humildade. Seus trabalhos são de ajuda aqueles que estão em dificuldade material ou emocional, sendo que, o seu trabalho se desenvolve mais para o lado emocional e físico, das pessoas que os procuram, sendo chamados, carinhosamente de psicólogos dos aflitos.

Sua paciência em escutar os problemas e aflições dos consulentes, fazem deles as entidades mais procuradas na Umbanda, são chamados de Vovôs e Vovós da Umbanda.

Também usam ervas em seus trabalhos de magia e principalmente nas rezas feitas a doentes, e ,crianças que estão com mal olhado, suas rezas são conhecidas como poderosas, usam também de patuás, saquinhos em que são depositados elementos de magia e que os consulentes usam no corpo para proteção.

Da mesma forma que os Caboclos, os Pretos Velhos usam cachimbos para limpeza espiritual, jogando sua fumaça sobre a pessoa que esta recebendo o passe e limpando a aura de larvas astrais e energias negativas.

Quando se fala em preto-velho, estamos falando de uma grande linha, ou seja, uma grande faixa vibratória onde espíritos afins se "encaixam" para cumprirem sua missão.

Esses espíritos foram ex-escravos e negros africanos que não chegaram a ser escravos. Constam também dessa linha espíritos que não foram escravos nem negros africanos, mais que por afinidade escolheram a Umbanda para cumprirem sua missão.

O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar sua experiência, pois quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma vovó subentendemos que essa pessoa já tenha vivido muito mais tempo. Adquirindo assim mais coisas para contar e passar, principalmente essa mesma pessoa já viveu o suficiente para ter aprendido a ter paciência, compreensão, menos ansiedade para a vida. É baseado nesses fatores que as pessoas mais velhas aconselham.

No mundo espiritual é bastante semelhante. A grande característica dessa linha é o conselho. É devido a esse fator que carinhosamente dissemos que são os "Psicólogos da Umbanda".

Suas vestimentas e apetrechos são bem simples, não necessitam de muitos artifícios para trabalhar, necessitam apenas contar com a atenção e a concentração do seu médium durante a consulta. Usam cachimbo, lenços, toalhas e as vezes fumo de rolo e cigarro de palha.

Sua forma de incorporação é compacta, sem dançar ou pular muito. A vibração começa com um "peso" nas costas e uma inclinação de tronco para frente, e os pés fixados no chão. Se locomovem apenas quando incorporam para as saudações necessárias (atabaque, gongá e Babá) e depois sentam e praticam sua caridade. Podemos encontrar alguns que se mantém em pé.

É possível ver Preto-Velhos dançando, mais esse dançando é sútil apenas com movimentos dos ombros ou quando sentados, com as pernas.

Essa simplicidade se expande, tanto na sua maneira de ser e de falar. Usam vocabulário simples, sem palavras rebuscadas. Sua maneira carregada de falar é para dar ideia de antiguidade.

Além disso os Preto-Velhos nos ajudam a enxergar que a prática da caridade, é vital para nossa evolução espiritual.

A linha é um todo, com suas características gerais, ditas acima, mais como cada médium possui uma coroa diferente, isso determina as diferenças entre os Preto-Velhos.

Essas diferenças ocorrem porque Preto-velhos são trabalhadores de orixás e trazem para sua forma de trabalho a essência daquela força da natureza para quem eles trabalham.

Essas diferenças são primeiramente evidenciadas na maneira de incorporação.

Não é só na forma física que devemos observar as diferenças, mais também a maneira de trabalhar e a especialidade dele.

Para exemplificar, separaremos abaixo por Orixás:


PRETO-VELHOS DE OGUM

São mais rápidos na sua forma incorporativa e sem muita paciência com o médium e as vezes com outras pessoas que estão cambonando e até consulentes.

São diretos na sua maneira de falar, não enfeitam muito suas mensagens, as vezes parece que estão brigando, para dar mesmo o efeito de "choque", mais são no fundo extremamente bondosos tanto para com seu médium e para as outras pessoas.

São especialistas em consultas encorajadoras, ou seja, mera dose de coragem e segurança para aqueles indecisos e "medrosos". É fácil pensar nessa característica pois Ogum é um Orixá considerado corajoso.


PRETO-VELHOS DE OXUM


São mais lentos na forma de incorporar e até falar. Passam para o médium uma serenidade inconfundível.

Não são tão diretos para falar, enfeitam o máximo a conversa para que uma verdade dolorosa possa ser escutada de forma mais amena, pois a finalidade não é "chocar" e sim, fazer com que a pessoa reflita sobre o assunto que está sendo falado.

São especialistas em reflexão, nunca se sai de uma consulta de um Preto-velho de Oxum sem um minuto que seja de pensamento interior. As vezes é comum sair até mais confuso do que quando entrou, mais é necessário para a evolução daquela pessoa.


PRETO-VELHOS DE XANGÔ


São raros de ver, contudo devemos também conhece-los.

Sua incorporação é rápida como as de Ogum.

Assim como os caboclos de Xangô, trabalham para causas de prosperidade sólida, bens como casa própria, processo na justiça e realizações profissionais.

Passam seriedade em cada palavra dita. Cobram bastante de seus médiuns e consulentes.


PRETO-VELHOS DE IANSÃ


São rápidos na sua forma de incorporar e falar. Assim como os de Ogum, não possuem também muita paciência para com as pessoas.

Essa rapidez é facilmente entendida, pela força da natureza que os rege, e é essa mesma força lhes permite uma grande variedade de assuntos com os quais ele trata, devido a diversidade que existe dentro desse único Orixá.

Esses Preto-velhos retribuem ao médium principalmente a defesa, são rápidos na ajuda. Se cobram a honestidade do seu médium no momento da consulta, não admitem que desconfiem dele (médium).

Mesmo assim eles também possuem uma especialidade.

Geralmente suas consultas são de impacto, trazendo mudança rápida de pensamento para a pessoa. São especialistas também em ensinar diretrizes para alcançar objetivos, seja pessoal, profissional ou até espiritual.

Entretanto, é bom lembrar que sua maior função é o descarrego. É limpar o ambiente, o consulente e demais médiuns do terreiro, de eguns ou espíritos de parentes e amigos que já se foram, e que ainda não se conformaram com a partida permanecendo muito próximos dessas pessoas.


PRETO-VELHOS DE OXÓSSI


São os mais brincalhões, suas incorporações são alegres e um pouco rápidas.

Esses Preto-velhos geralmente falam com várias pessoas ao mesmo tempo.

Possuem uma especialidade: A de receitar remédios naturais, para o corpo e a alma, assim como emplastros, banhos e compressas, defumadores, chás, etc... São verdadeiros químicos em seus tocos. - Afinal não podiam ser diferentes, pois são alunos do maior "químico" - Oxóssi.


PRETO-VELHOS DE NANÃ


São raros, assim como os filhos desse Orixá.

Sua maneira de incorporação é de forma mais envelhecida ainda. Lenta e muito pesada. Enfatizando ainda mais a idade avançada.

Falam rígido, com seriedade profunda. Não brincam nas suas consultas e prezam sempre o respeito, tanto do médium quanto do consulente, e pessoas a volta como: cambonos e pessoas do terreiro em geral e principalmente do pai ou da mãe de santo.

Cobram muito do seu médium, não admitem roupas curtas ou transparentes, mesmo para médiuns homens. Seu julgamento é severo. Não admite injustiça com seu médium.

Costumam se afastar dos médiuns que consideram de "moral fraca". Mais prezam demais a gratidão, de uma forma geral. Podem optar por ficar numa casa, se seu médium quiser sair, se julgar que a casa é boa, digna e honrada.

É difícil a relação com esses guias, principalmente quanto há discordância, ou seja, não são muito abertos a negociação no momento da consulta.

São especialistas em conselhos que formem moral, e entendimento do nosso carma, pois isso sem dúvida é a sua função.

Atuam também como os de Iansã e Omulú, conduzindo Eguns.


PRETO-VELHOS DE OBALUAÊ


São simples em sua forma de incorporar e falar. Exigem muito de seus médiuns, tanto na postura quanto na moral.

Defendem quem é certo ou quem está certo, independente de quem seja, mesmo que para isso ganhem a antipatia dos outros.

Agarram-se a seus "filhos" com total dedicação e carinho, não deixando no entanto de cobrar e corrigir também. Pois entendem que a correção é uma forma de amar.

Devido a elevação e a antiguidade do Orixá para o qual eles trabalham, acabam transformando suas consultas em conselhos totalmente diferenciados dos demais Preto-velhos. Ou seja, se adaptam a qualquer assunto e falam deles exatamente com a precisão do momento.

Como trabalha para Obaluaê, e este é o "dono das almas", esses Preto-velhos são geralmente chefes de linha e assim explica-se a facilidade para trabalhar para vários assuntos.

Sua "visão" é de longo alcance para diversos assuntos, tornando-os capazes de traçar projetos distantes e longos para seus consulentes. Tanto pessoal como profissional e até espiritual.

Assim exigem também fiel cumprimento de suas normas, para que seus projetos não saiam errado, para tanto, os filhos que os seguem, devem fazer passo a passo de tudo que lhe for pedido, apenas confiando nesses Preto-velhos. Quando o filho não faz isso, costumam tirar o que já lhe deu, para que o mesmo repense a importância desse Preto-velho em sua vida.

Gostam de contar histórias para enriquecer de conhecimento o médium e as pessoas a volta.

Não trabalham para saúde (essa função é do Erê de Obaluaê). Salvo se essa doença for proveniente de "trabalhos feitos - macumba".


PRETO-VELHOS DE YEMANJÁ


São belos em suas incorporações, contudo mantendo uma enorme simplicidade. Sua fala é doce e meiga.

Possuem a paciência das mães e a compreensão também. Cobram pouco de seus médiuns, apenas que eles cumpram a caridade sempre por amor nunca por obrigação.

Sua especialidade maior é sem dúvida os conselhos sobre laços espirituais e familiares.

Gostam também de trabalhar para fertilidade de um modo geral, e especialmente para as pessoas que desejam engravidar.

Utilizando o movimento das ondas do mar, são excelentes para descarregos e passes.

Cobram dos seus médiuns que lutem para ter um casamento feliz e sólido, pois para eles só assim poderão ajudar a outras pessoas nesse sentido, já que seu médium já vive essa realidade.


PRETO-VELHOS DE OXALÁ


São bastante lentos na forma de incorporar e tornam-se belos principalmente pela simplicidade contida em seus gestos.

Raramente dão consulta, sua maior especialidade é o passe de energização.

Cobram também bastante de seus médiuns, principalmente no que diz respeito a prática de caridade, assiduidade no terreiro e vaidade.

OS CABOCLOS


São entidades, geralmente espíritos de índios brasileiros e Sul Americanos, que trabalham na caridade como verdadeiros conselheiros, nos ensinando a amar ao próximo e a natureza, são entidades que tem como missão principal o ensinamento da espiritualidade e o encorajamento da fé, pois é através da fé que tudo se consegue. Usam em seus trabalhos ervas que são passadas para banhos de limpeza e chás para a parte física, ajudam na vida material com trabalhos de magia positiva, que limpam a nossa áura e proporcionam uma energia de força que irá nos auxiliar para que consigamos o objetivo que desejamos, não existe trabalhos de magia que possam lhe dar empregos e favores, isso não é verdade, o trabalho que eles desenvolvem é o de encorajar o nosso espírito e prepara-lo para que nós consigamos o nosso objetivo. A magia praticada pelos espíritos de caboclos e pretos velhos é sempre positiva, não existe na Umbanda trabalho de magia negativa, ao contrário, a Umbanda trabalha para desfazer a magia negativa. Eu sei que infelizmente, existem vários terreiros que praticam esta magia inferior, mas estes são os magos negros, que para disfarçar o seu verdadeiro propósito, se escondem em terreiros ditos de Umbanda para que possam atrair as pessoas e desenvolver as suas práticas negativas, com promessas falsas que sabemos nunca são atendidas. Mais graças a Oxalá, esses terreiros estão acabando, pois, o povo esta tendo um maior conhecimento e buscando a verdade e é através desse caminho, de busca da verdade, que esse templo de Umbanda pretende ensinar a todos, o verdadeiro caminho da fé. Os caboclos de Umbanda são entidades simples e através da sua simplicidade passam credibilidade e confiança a todos que os procuram, seus pontos riscados, grafia sagrada dos Orixás, traduzem a mais forte magia que existe atualmente, é através desses pontos que são feitas limpezas e evocações de elementais e Orixás para diversos fins, mais a frente falaremos um pouco mais sobre os pontos riscados de Umbanda. Nos seus trabalhos de magia costumam usar pembas, ( giz de várias cores imantados na energia de cada Orixá), velas, geralmente de cêra, essências, flores, ervas, frutas, charutos e incenso. Todo esse material será disposto encima de uma mandala ou ponto riscado, para que esse direcione o trabalho. Quando fazemos um trabalho para uma entidade de Umbanda e colocamos algum prato de comida, como pôr exemplo espigas de milho cozidas com mel, esta comida não é para o Caboclo comer, espíritos não precisam de comida, o alimento que esta ali depositado, serve como alimento espiritual, isto é, a energia que emana daquela comida e transmutada e utilizada para o trabalho de magia a favor do consulente, da mesma forma o charuto que a entidade esta fumando é usado para limpeza, do consulente através da fumaça e das orações que estas entidades fazem no momento da limpeza, são os chamados passes de Umbanda.Muitas vezes a Umbanda é criticada e chamada de baixo espiritismo, pois seus guias fumam e bebem, mais estas críticas se devem a uma falta de conhecimento da magia ritual que a Umbanda pratica, desde o início, com tanta maestria e poder, e sempre o fará para o bem de todos.
"São geralmente espíritos de civilizações primitivas, tais como índios: Íncas, Maias, Astecas e afins. Foram espíritos de terras recém formadas e descobertas, eles formaram sociedades (tribos e aldeias), com perfeita organização estrutural, tudo era fabricados por eles, desde o cultivo de alimentos até a moradia.
Como foram primitivos conhecem bem tudo que vem da terra, assim caboclos são os melhores guias para ensinar a importância das ervas e dos alimentos vindos da terra, além de sua utilização.
Assim como os Preto-velhos, possuem grande elevação espiritual, e trabalham "incorporados" a seus médiuns na Umbanda, dando passes e consultas, em busca de sua elevação espiritual.
São subordinados aos Orixás, o que lhes concede uma força mestra na sua personalidade e forma de trabalho, igual aos Preto-velhos.
Quando falamos na personalidade de um caboclo ou de qualquer outro guia, estamos nos referindo a sua forma de trabalho.
Costumam usar durante as giras, penachos e fumam charutos. Falam de forma rústica lembrando sua forma primitiva de ser, dessa forma mostram através de suas danças muita beleza, própria dessa linha.
Seus "brados", que fazem parte de uma linguagem comum entre eles, representam quase uma "senha" entre eles. Cumprimentos e despedidas são feitas usando esses sons.
Costumamos dizer que as diferenças entre eles estão nos lugares que eles dizem pertencer. Dando como origem ou habitat natural, assim podemos ter:
Caboclos da mata - Esses viveram mais próximos da civilização ou tiveram contato com elas.
Caboclos da mata virgem - Esses viveram mais interiorizado nas matas, sem nenhum contato com outros povos.
Assim vários caboclos se acoplam dentro dessa divisão.
Torna-se de grande importância conhecermos esses detalhes para compreendermos porque alguns falam mais explicados que outros. Mais ainda existe as particularidades de cada um, que permitem diferenciarmos um dos outros.
A primeira é a "especialidade" de cada um, são elas: curandeiros, rezadeiros, guerreiros, os que cultivavam a terra (agricultores), parteiras, entre outros.
A segunda é diferença criada pela "força da natureza" que os rege. É o Orixá para quem eles trabalham.
Para nós da Umbanda, é importantíssimo saber que a "personalidade" de um caboclo se dá pela junção de sua "origem", "especialidade" e "força da natureza" que o rege.
E é nessa "personalidade" que centramos nossos estudos. Assim como os Preto-velhos, eles podem dar passe, consulta e correntes de energização ou participarem de descarrego, contudo sua prática da caridade se dá principalmente com a manipulação.
Quando falamos em manipulação, estamos nos referindo desde preparo de remédios feitos com ervas, emplastos, compressas e banhos em geral até manipulação física, como por rezar "espinhela caída".
Esses guias por conhecerem bem a terra, acreditam muito no valor terapêutico das ervas e de tudo que vem da terra, por isso as usam mais que qualquer outro guia.
Desenvolveram com isso um conhecimento químico muito grande para fazer remédios naturais.
Como são espíritos da mata propriamente dita, todos recebem forte influência de Oxóssi, no sentido apenas do conhecimento químico das ervas, independente do Orixá que trabalhe.
São espíritos que também trabalham muito com passe. Acreditamos ser pela facilidade de locomoção, já que normalmente trabalham em pé.
São também bastante necessários na hora de um descarrego, pois conseguem acoplar no médium em qualquer posição.
Formas incorporativas e especialidade de caboclos:

CABOCLOS DE OXUM

Geralmente são suaves e costumam rodar, a incorporação acontece primeiro ou quase simultâneo no coração (interno).
Trabalham mais para ajuda de doenças psíquicas, como: depressão, desanimo entre outras. Dão bastante passe tanto de dispersão quanto de energização.
Aconselham muito, tendem a dar consultas que façam pensar; Seus passes quase sempre são de alívio emocional.

CABOCLOS DE OGUM

Sua incorporação é mais rápida e mais compactada ao chão, não rodam. Consultas diretas, geralmente gostam de trabalhos de ajuda profissional. Seus passes são na maioria das vezes para doar força física, para dar ânimo.

CABOCLOS DE YEMANJÁ

Incorporam de forma suave, porém mais rápidos do que os de Oxum, rodam muito, chegando a deixar o médium tonto.
Trabalham geralmente para desmanchar trabalhos, com passes, limpeza espiritual, conduzindo essa energia para o mar.

CABOCLOS DE XANGÔ

São guias de incorporações rápidas e contidas, geralmente arriando o médium no chão.
Trabalham para : emprego; causas na justiça; imóvel e realização profissional.
Dão também muito passe de dispersão. São diretos para falar.

CABOCLOS DE NANÃ

Assim como os Preto-velhos são mais raros, mas geralmente trabalham aconselhando, mostrando o carma e como ter resignação.
Dão passes onde levam eguns que estão próximos.
Sua incorporação igualmente é contida, pouco dançam.

CABOCLOS DE IANSÃ

São rápidos e deslocam muito o médium.
São diretos para falar e rápidos também, muitas das vezes pegam a pessoa de surpresa.
Geralmente trabalham para empregos e assuntos de prosperidade, pois Inhasã tem grande ligação com Xangô. No entanto sua maior função é o passe de dispersão (descarrego).
Podem ainda trabalhar para várias finalidades, dependendo da necessidade.

CABOCLOS DE OXALÁ

Quase não trabalham dando consultas, geralmente dão passe de energização.
São "compactados" para incorporar e se mantém localizado em um ponto do terreiro sem deslocar-se muito.

CABOCLOS DE OXÓSSI

São os que mais se locomovem, são rápidos e dançam muito.
Trabalham com banhos e defumadores, não possuem trabalhos definidos, podem trabalhar para diversas finalidades.
Esses caboclos geralmente são chefes de linha.

CABOCLOS DE OBALUAÊ

São raros, pois são espíritos dos antigos "bruxos" das tribos indígenas. São perigosos, por isso só filhos de Omulú de primeira coroa possuem esses caboclos.
Sua incorporação parece um Preto-velho, locomovem-se apoiados em cajados. Movimentam-se pouco.

Fazem trabalhos de magia, para vários fins. "

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Zé Pelintra: origem e história



― Personagem bastante conhecido, seja por frequentadores das religiões onde atua como entidade, seja por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Não raro, encontram-se pessoas que o conhecem de nome e pela malandragem, mas não sabem que este é uma entidade do Catimbó e da Umbanda; outras já o viram retratado inúmeras vezes, mas não sabiam que se tratava de “alguém” e também encontraremos os que o conhecem apenas como entidade e desconhecem sua origem e história, estes, porém, menos frequentes. O fato é que a figura de Zé Pelintra, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e é retratada de diversas maneiras. Por exemplo, como nos explica Ligiéro:

Na década de 1970, Chico Buarque cria sua Ópera do Malandro. Para o cartaz do espetáculo teatral, o artista Maurício Arraes utiliza a figura de Zé Pelintra mesclada aos traços faciais de Chico Buarque em um número típico de minstrelsy norte-americano, tal como protagonizado no teatro de revista e no cinema por Al Johnson [...] (LIGIÉRO, 2004, p. 142).

No início da década de 1990, o cineasta Roberto Moura lança “Katharsis: histórias dos anos 80”, com Grande Othelo no papel de Zé Pelintra, e este seria o último longa-metragem desse emblemático ator negro, lembra Ligiéro (2004). Até mesmo a figura de Zé Carioca, personagem de Walt Disney, teria sido inspirado em Seu Zé. Ligiéro conta a história:

Em 1940, Walt Disney fez uma viagem ao Brasil como parte do programa “política da boa vizinhança” criado pelo governo norte-americano – para pesquisar um novo personagem tipicamente brasileiro. Na ocasião, foi levado com sua equipe de desenhistas para conhecer a Escola de Samba da Portela. Naquela noite, a nata do samba reuniu-se, como fizera alguns anos antes com a visita de Josephine Baker ao Rio de janeiro. Lá estavam as figuras mais importantes do mundo do samba – Cartola, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres... Conta-se que foi Paulo – falante e elegante – quem realmente impressionou Walt Disney e o inspirou a criar o personagem Zé Carioca. Na ocasião, o sambista não estava todo de branco, tinha apenas o paletó nessa cor, mas foi o suficiente, pois essa peça passou a ser a marca de Zé Carioca [...] (Ibidem, p. 108).

E mais adiante:

O Zé Carioca do Disney, que passou a ser um símbolo do Rio de janeiro e do próprio Brasil no exterior, fuma charuto e tem um guarda-chuva que ele maneja como uma bengala. Parece que quem esteve na Macumba da Mãe Adedé foi Walt Disney, e não Josephine Baker, e que lá viu o Zé Pelintra incorporado, pois a maneira gingada de andar e o jeito irônico de seu personagem foram realmente captados da alma do nosso malandro. É difícil acreditar que ele não soubesse também que o papagaio é um dos animais consagrados a Exu (Ibidem, p.109).

Seu Zé está sempre representado, seja em figuras desenhadas, seja em estatuetas, de terno branco de linho ― e veremos que provavelmente para a malandragem não era à toa, segundo Ligiéro (2004), ― chapéu de palhinha com uma faixa vermelha contornando-o, gravata vermelha e sapato bicolor. Essa é sua representação na Umbanda, o típico malandro – figura que possivelmente ganhou esse estereótipo a partir da figura de Zé Pelintra.

O terno de linho branco tornou-se o símbolo do malandro por ser vistoso, de caimento perfeito, largo e próprio para a capoeiragem. Para o malandro, lutar sem sujá-lo era uma forma de mostrar habilidade e superioridade no jogo de corpo. Ao contrário dos executivos de sua época, que tentavam imitar os ingleses, o malandro não usava casimira, tecido pouco apropriado para o clima úmido dos trópicos. Seu Zé destacava-se pela elegância e competência como negro [...]. Numa época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, vamos observar que a figura do malandro torna-se representativa da dignidade do negro deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal (Ibidem, p. 101-2).

Mas afinal, qual a origem de nosso personagem?

Seu Zé torna-se famoso primeiramente no Nordeste seja como frequentador dos catimbós ou já como entidade dessa religião. O Catimbó está inserido no quadro das religiões populares do Norte e Nordeste e traz consigo a relação com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia.
Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes.
Já no Nordeste a figura de Zé Pelintra é identificada também pela sua preocupação com a elegância. No Catimbó, usa chapéu de palha e um lenço vermelho no pescoço. Fuma cachimbo, ao invés do charuto ou cigarro, como viria a ser na Umbanda, e gosta de trabalhar com os pés descalços no chão.
De acordo com Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de Janeiro, onde se torna, nas primeiras três décadas do século XX, um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária.
Nessa época, período de desenvolvimento urbano e industrial, a vida da população afrodescendente foi profundamente transformada. Havia um fluxo migratório intenso de sertanejos em direção à capital nacional em busca de melhores condições de vida. Nascem as primeiras favelas, empurrando para os morros os migrantes dos antigos cortiços derrubados para a Reforma Passos.
Nesse contexto, Seu Zé poderia ter conseguido fama como muitos outros, pela sua coragem e ousadia, obtendo aceitação pelos que se encontravam em situação como a sua. Segundo relatos históricos, Seu Zé era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio.
Quanto à sua morte, autores discordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível.
Acontece com Zé Pelintra um processo inverso ao que aconteceu com outros famosos malandros. Muitos destes foram esquecidos ou enterrados como indigentes. Foram lendários para uma geração. Entretanto, com o passar do tempo acabaram sendo esquecidos. “Para Zé Pelintra a morte representou um momento de transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser, assim, incorporado à Umbanda e ao Catimbó como entidade, “baixando” em médiuns em cidades diversas que nem mesmo teriam sido visitadas pelo malandro em vida, como Porto Alegre ou Nova York, por exemplo.
Todo esse relato em última instância não tem comprovação histórica garantida e o importante para nós nesse momento é o mito contado a respeito dessa figura.

Incorporação na Umbanda como Exu- Seu Zé é a única entidade da Umbanda que é aceita em dois rituais diferentes e opostos: a “Linha das Almas” (caboclos e pretos-velhos) e o ritual do “Povo de Rua” (Exus e Pombas-Giras), definitivamente outro tipo de freguesia.

Enquanto em um existe [...] uma ética cristã com propósitos de cura dos males do corpo e proteção espiritual pela invocação tanto dos guias espirituais afro-ameríndios quanto das entidades máximas do catolicismo, incluindo o Espírito Santo, Jesus Cristo, a Virgem Maria e muitos outros santos desse populoso panteão, [...] no outro [...] a chamada moral cristã é deixada de lado permitindo que se dê vazão aos instintos primordiais na procura de soluções para os problemas terrenos oriundos de pequenezas cotidianas (LIGIÉRO, 2004, p. 37-38).

Como afirma Birman (1985), “povo de rua lembra facilmente a massa anônima que circula pela cidade, os trabalhadores, as pessoas comuns que ocupam o espaço público nas suas idas e vindas”. Na expressão “povo de rua”, fica claro o binômio casa-rua como opostos. O primeiro marca as relações familiares e o segundo o sem-domínio, dando a sensação de incontrolável, o marginal. E é dessa maneira que freqüentemente são vistos os Exus principalmente na Umbanda. “Representam, pois, o avesso da civilização, das regras, da moral e dos bons costumes”, continua. A partir disso, Birman (1985) nos traz uma visão também interessante: “a identificação do exu com o domínio da rua gerou um tipo que é muito popular na umbanda: o exu Zé Pilintra, figura gêmea do malandro carioca”.

No ritual do Povo de Rua, o clima é sempre de festividade. É marcado pela dubiedade esse tipo de ritual, pois embora as pessoas que lá estão estejam à procura de uma consulta séria para resolução de seus problemas, acabam por participar do clima festivo e alegre que é constituído, entre outras coisas, de danças e bebidas. Nessa cerimônia, não só os médiuns incorporados dançam com seus guias, mas também os clientes e/ou fiéis (ou mesmo assistência, como são chamadas as pessoas que freqüentam uma gira na Umbanda seja para só ver seja para consultar um espírito) são convidados a dançar e, se for íntimo de alguma entidade, até beber com esta. E nesse clima são realizadas as consultas, no meio de muita música e alegria, por mais séria que seja a questão do consulente. Como bem observou Ligiéro (2004), “Seu Zé, com seu humor iconoclasta, nos lembra de que na origem da tragédia havia Dionísio, era preciso brincar com a vida para, assim, combater com eficácia a própria morte”.

Zé Pelintra e o arquétipo do trickster― Antes de começarmos a discorrer sobre estas duas imagens, seria prudente dizer que o presente artigo não tem pretensão em reduzir o malandro Zé Pelintra em um arquétipo do inconsciente coletivo. Fazê-lo seria destruir ou negar toda a diversidade de visões de mundo que o ser humano construiu ao longo de sua história. Seria tentar atribuir valores a essa diversidade em detrimento de uma imaginável e inexistente suposta classificação de que culturas são as “melhores” e quais se aproximam mais da “realidade”. No entanto, a realidade de uma cultura certamente não é a mesma de outra. Inclusive dentro da mesma cultura podemos achar visões de mundo diferente. Não existe olhar sem tradução, não existe olhar neutro que seja isento o suficiente de valores para julgar quais elementos culturais prestam ou não dentro de uma determinada sociedade.

É interessante também notar como se encontram resistências no Brasil, principalmente por parte das elites (“intelectuais e pessoas esclarecidas em geral”), em assumir ou assinar, como prefere Segato, um lugar às tradições e ao pensamento afro-brasileiro que, de acordo com a pesquisadora, poderiam estar gerando um pensamento para o país. Muito embora, em algumas ocasiões, essa mesma elite faça uso dessas tradições.

Como estrangeira, [...], estive muitas vezes diante da clara evidência do menosprezo com que intelectuais e pessoas esclarecidas em geral tratam a tradição religiosa afro-brasileira. [...] O deslumbramento permanente e sempre renovado de pesquisadores e cronistas estrangeiros com estes cultos contrasta com sua falta de prestígio, na atualidade, na cena nacional. Esse menosprezo das elites pode ser um efeito do racismo à brasileira, isto é, um racismo marcado pelo medo da familiaridade (SEGATO, 1995, p. 15).

Segato (1995) explica esse racismo à brasileira diferenciando-o do racismo nórdico, por exemplo, que exclui o negro justamente por percebê-lo como um “outro”, alguém bruscamente diferente e desconhecido. Aqui, entre nós, o negro é discriminado na vida pública justamente pela razão oposta: teme-se ser “o mesmo”, “a ameaça é a possibilidade de desmascaramento da mesmidade”, conclui a autora. Seria, então, essa a razão pela qual a mitologia dos orixás passa totalmente desconhecida para a maioria dos brasileiros que, ao invés de procurar conhecê-la e familiarizar-se com esse sistema de pensamento, prefere embarcar nas águas “brancas” da mitologia greco-romana, celta ou ainda, viking. Não que essas mitologias não tenham seu valor ou sejam pobres, e aqui mais uma vez ressalta-se a inutilidade da atribuição de valores às culturas, muito pelo contrário, são mitologias também ricas e complexas, mas esses sistemas de pensamento dizem mais respeito aos povos onde foram propagados do que a nós. Zeus tinha um significado muito específico na Grécia e provavelmente não nos chegou com o mesmo significado, pois não vivemos as mesmas questões humanas e não as concebemos como os gregos as concebem e vivem. Quando esse mesmo deus é “importado” pelos romanos, apesar da ponte que se faz na mitologia “greco-romana”, chegou lá com atributos muito específicos também para o povo romano, que inclusive o chama agora de Júpiter. Quando essa tradição chega ao Brasil, já chega impregnada de traduções em cima de traduções, valores sobrepostos a outros e, frequentemente, Zeus e Júpiter se tornam o mesmo deus, pasteurizado. Não captamos a essência nem de Zeus e nem de Júpiter. Só podemos saber deles através de livros que muitas vezes não têm uma assinatura confiável.

Por que então não falamos de Zé Pelintra, Ogum ou Iemanjá, ao invés de nos reconhecermos em Hermes, Marte ou Afrodite, só pra citar alguns “reconhecíveis”? Estes sim estão impregnados na cultura brasileira, fazem parte do nosso dia-a-dia, estão “vivos” e “atuantes” na nossa sociedade. Muito mais fácil reconhecer Zé Pelintra nos bares e cabarés e casas de jogos do nosso país do que Hermes na Lapa carioca. Os gregos deviam ter alguma forma de se comunicar com seus deuses. Os gregos também faziam oferendas aos seus deuses. Mas se quisermos “falar” com um deus grego, talvez fique difícil pela escassez de canais de comunicação e, provavelmente, não saberíamos como fazê-lo. Um grego talvez fosse necessário no mínimo para uma iniciação em sua cultura. No entanto, “dialogar” com Zé Pelintra, Ogum, Iemanjá ou qualquer outra entidade do panteão afro-brasileiro, sejam estas os Orixás do Candomblé ou as entidades da Umbanda como caboclos ou pretos-velhos, já é muito mais acessível e aqui não se está falando de, necessariamente, ir a um terreiro conversar com uma entidade dessas incorporada em um médium, mas sim de reconhecer suas “caras” no cotidiano da nossa cultura.

Porém, devemos tomar cuidado para não pasteurizar nossos próprios deuses. Sobre isso Segato constata:

Não ignoro que tem havido um certo grau de banalização e vulgarização dos conhecimentos próprios do mundo religioso afro-brasileiro. Descrições superficiais e estereotipadas, uma divulgação massiva e jornalística dos aspectos mais aparentes e folclorizados da religião raramente acompanhados dos conhecimentos sutis e complexos que lhes servem de suporte; traduções esquemáticas e redutoras do sistema dos “orixás” para outros sistemas de arquétipos como, por exemplo, os signos do zodíaco ou o panteão dos deuses olímpicos. [...] Mas esse barateamento não é exclusivo desse mundo, e se deu também, por exemplo, com as tradições orientais, assim como as esotéricas (Ibidem, p. 16-7).

Como exemplo, podemos citar o yoga que na Índia é um sistema filosófico, um modo de vida, mas que no Brasil e demais países ocidentalizados virou, de maneira geral, ginástica.

Portanto, a proposta desse trabalho está em oferecermos ao Zé Pelintra o posto de representação do trickster no Brasil. Se por trickster está entendido ser, como o próprio Jung designou, aquele que subverte a ordem; o embusteiro; o trapaceiro; a sombra social, então estamos falando de Zé Pelintra. E mais uma vez aqui não se trata da crença numa ou outra religião, mas sim da figura, da imagem que este representa, pois como foi visto, existem as pessoas que sabem ou já ouviram falar em Seu Zé e suas histórias, mas não sabiam que este era uma entidade das religiões afro-ameríndias, para que não fique de fora o Catimbó, berço dessa personalidade. Não se trata, tampouco, de fazermos a tradução de trickster por Zé Pelintra ou ainda que se fale em arquétipo do Zé Pelintra, mas sim de tê-lo como imagem desse arquétipo, pois este é mais próximo de todos nós e para brasileiros é muito mais fácil reconhecê-lo, seja para fins didáticos seja para ter simplesmente a imagem, do que a qualquer outra figura que se possa querer pôr em seu lugar. Seu Zé tem em sua personalidade todas as características do trickster. Como nos mostra Ligiéro (2004), Zé Pelintra tem a característica “de assumir quase simultaneamente o sagrado e o profano, o sério e o sacana”, características essas que muitas vezes são usadas para desmoralizá-lo e classificá-lo como vulgar. Mas o que é o trickster senão também o vulgar?

O malandro encarnado por Zé Pelintra, explica Ligiéro, “se coloca miticamente como um quase-herói, um vencedor que triunfa ao burlar a ordem estabelecida [...]” e implementa a sua própria ordem caótica. E o autor faz então, uma pergunta chave:

[...] se comprovadamente, os malandros desapareceram, ou ainda, se tiveram um final no mínimo trágico, fica a pergunta: Como permanecem de forma insistente no inconsciente do povo brasileiro manifestando aspectos dessa energia em vários campos das atividades religiosas, esportivas e artísticas? (LIGIÉRO, 2004, p. 177).

E respondendo a sua própria pergunta, Ligiéro fala no arquétipo do malandro que nada mais é do que o nosso conhecido trickster “à brasileira”:

Creio que a permanência do modelo clássico do malandro, como algo superior das culturas negras e mestiças brasileiras, seja também decorrente do trabalho político e filosófico de admiradores e guardiões da cultura afro-brasileira. [...] Percebemos que artistas, esportistas e religiosos foram capazes de absorver o arquétipo do malandro e seu arsenal mítico sem assumirem a personalidade de marginal, abdicando dos seus traços politicamente incorretos, como o nefasto machismo e o seu aspecto agressivo e arruaceiro. Eles fizeram de sua arte/religiosidade uma articulação do mundo ancestral africano com a pós-modernidade (Ibidem, p.177-8).

Ou seja, complementando, estaríamos, assim, falando de como pode se dar a vivência desse arquétipo do malandro hoje. Pois, como se considera para qualquer outro arquétipo, a identificação cristalizada com o mesmo é que se torna perigosa. Em outras palavras, não precisamos ser essencialmente embusteiros, trapaceiros ou subvertedores da ordem, por exemplo, a todo o momento, para ter a vivência do trickster, ou como estamos preferindo enfatizar ao longo desse trabalho, da malandragem. 

Em tempos de descrença nos partidos políticos, nas religiões e revoluções, Zé Pelintra, “em suas múltiplas versões, tem se mostrado um guia maleável e exemplar”. Apesar de pouco conhecido das elites – ou ignorado – e combatido pelas religiões de poder, podemos ver sua “influência” em vários setores da população. Parece que alguns políticos cristalizaram a identificação com a pior parte da malandragem se esquecendo que essa, quando trapaceava era em favor de uma classe que estava (e continua) sendo oprimida por essa mesma elite. Por outro lado, os desfavorecidos ainda recorrem à malandragem para tentar a sobrevivência em um país onde a mobilidade social é quase nula e freqüentemente encontram em Seu Zé e Ogum, o Orixá guerreiro, seus santos de devoção. O fato é que “essa entidade”, Ligiéro diz,

[...] energiza as almas convalescentes de gente do povo e da classe média, dos milhares de desempregados e dos batalhadores da economia informal: camelôs, carregadores, baianas, flanelinhas, guardas de trânsito, pivetes, vendedores de balas nos sinais, prostitutas jovens e velhas... (Ibidem, p.185).

E seja ela entendida como um santo, força ou arquétipo, é imprescindível notar o quão brasileira ela é, nos falando assim quem somos, de onde viemos e, quem sabe, abrindo nossos caminhos.

(sete porteiras)

A LINHA DOS MALANDROS




A Linha dos Malandros da Umbanda traz para dentro do ambiente Sagrado os excluídos da sociedade. Espíritos que em alguma encarnação, por conta do preconceito racial, foram considerados párias e marginalizados pela sociedade, mas que lidaram com essa adversidade sem perder sua Fé, sua identidade e seu bom humor, certamente que já apresentavam um bom nível pessoal de evolução. E após desencarnarem continuaram suas evoluções, até alcançarem um Grau perante a Espiritualidade, o qual lhes permitiu voltar à Terra na condição de Guias Espirituais, para nos reconduzir ao Divino.
Ao mesmo tempo, a Linha dos Malandros simboliza a aproximação dos excluídos com o Divino e ainda, para todas as pessoas, a possibilidade de uma reflexão sobre o preconceito e as exclusões sociais.
Mas, afinal, alguns se perguntam o quê um “malandro” teria para nos ensinar, qual seria a sua contribuição dentro da religião? Primeiro, cabe lembrar que não estamos falando do “malandro” no sentido vulgar da palavra.
Os Espíritos que se apresentam na Umbanda dentro da Linha que corresponde ao Grau Malandro (com “M” maiúsculo!) vêm nos ensinar a flexibilidade, a capacidade de adaptação diante dos obstáculos, o “jogo de cintura” e o bom humor, que se obtêm através do sentimento de Fé na Vida e em si mesmo e do equilíbrio das emoções, dos pensamentos e dos sentimentos. De alguma forma, em algum momento das suas existências, eles vivenciaram tudo isso e podem nos auxiliar.
Os Malandros nos ensinam: ●que a vida é feita de experiências e toda experiência visa a nos ensinar algo de positivo; ●que não há obstáculos insuperáveis, pois isso nos condenaria à destruição, o que é inconcebível porque não há “morte” em nenhum ponto do Universo e sim, transformações que promovem renovação e evolução constantes; ●que é preciso confiar nas Leis da Vida e manter a alegria e o bom humor, para estar em sintonia com faixas vibratórias positivas e atrair a cura espiritual, emocional, mental e física, pois todo filho de Deus é um co-criador.
Sua linguagem é altamente simbólica. Muitas vezes, eles falam conosco e comparam a vida a um jogo de cartas ou de dados:
●Nesse “jogo”, uma “jogada” ruim seria um imprevisto, uma adversidade. O que não significa a perda da partida (motivo para desespero, descrença e desistência), pois a próxima “jogada” (a nova oportunidade, o próximo passo) poderá ser melhor, só depende de nós;
●Nesse “jogo”, é preciso estar atento a cada passo, observando o “adversário” (o desafio externo, bem como os próprios pensamentos, convicções, emoções e sentimentos), para se enfrentá-lo em melhores condições e se alcançar “a vitória”;
●“A vitória” pode ser a superação do obstáculo em si. Mas a grande “vitória” é o entendimento das causas da dificuldade e a aceitação da nossa responsabilidade por essa realidade que de algum modo criamos. O erro ensina e nos dá oportunidade de recomeçar e acertar;
●No caso de uma derrota, saber esperar outra oportunidade e tentar de novo, sem nunca desistir. Podemos “virar o jogo” através da persistência, da alegria e da Fé no amanhã. É a valorização da vida, da própria existência, do momento atual e de cada momento.

O seu “gingado”, a sua musicalidade, a sua dança e a sua “malandragem” não são simples repetição das características “dos malandros do mundo”, vamos dizer assim. Esses Espíritos não estão entre nós para fazer apologia do que foram, possivelmente, em alguma encarnação, mas para nos ensinar o que é possível extrair das lições da vida.

A grande “malandragem” que eles nos ensinam é como sermos flexíveis, nos desapegando e abrindo mão de idéias antigas, para nos renovarmos a cada dia; encarar a vida com leveza, sem guardar rancores e levar tudo para o campo pessoal; não perder o humor e estragar um dia por causa de um obstáculo, por maior que pareça; aprender com os próprios erros, para não repeti-los, pois quem anda atento na vida não vive caindo em buraco...
Quando se fala em “malandro”, na linguagem cotidiana, a primeira idéia que nos ocorre é a do boêmio, do jogador inveterado de cartas ou de dados, do amante da noite, da música e das rodas de danças, que vivia de expedientes, carregava navalha ou faca e fugia da polícia.

O “malandro” carioca faz lembrar aquele que vivia na Lapa, que gostava de samba e passava as noites na gafieira, chegando a ser personagem de peças teatrais, de músicas e de muitas histórias. Já o “malandro” de Pernambuco vivia nas danças do côco e do xaxado, passando as noites no forró. O que eles têm em comum? Eram todos marginalizados pela sociedade, vistos como “gente à toa”. Porém, sobreviveram a esse clima adverso, vivendo sem acesso a uma boa instrução ou a bons empregos; nem sempre conseguiram, senão com muita dificuldade, dar alguma instrução aos filhos. Nem por isso perderam a alegria, o gosto pela música e pela dança, pelo carteado, pela conversa noite adentro, de alguma forma conseguindo manter suas raízes religiosas e tradições ancestrais, dando “um jeitinho” de ser felizes.

Por trás dos arquétipos da Umbanda, vamos encontrar, no mais das vezes, a Mão da Espiritualidade Superior a corrigir grandes equívocos e injustiças sociais e a nos fazer refletir, enquanto nos auxilia nos problemas do cotidiano. E hoje temos, na presença da Linha de Malandros, uma excelente oportunidade de refletir sobre algumas questões, em especial: primeiro, que nem tudo que parece ruim de fato o é; e segundo, que de tudo se pode extrair algo de bom e de positivo. Do que poderia ter sido uma experiência de todo ruim, esses Espíritos extraíram uma lição de flexibilidade. E aquilo que para uma sociedade hipócrita parecia ser neles um mal era, muito ao contrário, a prova de valor de um povo que manteve fidelidade às suas raízes e não se deixou vencer pelo meio hostil.

Os Malandros vêm até nós, pelas Mãos do Alto, para nos ensinar “a boa malandragem”: fazer limonada com os limões azedos que recebemos dos outros; escorregar e levantar rapidinho, sem perder a compostura e a elegância, e já sair dançando e cantando; aprender jogar “o jogo da vida” e ser um bom parceiro de jogo, aprendendo a rir das tristezas e de si mesmo; assumir ser o que se é, sem hipocrisias, e fazer todo o Bem que se possa; não se prender a padrões e valores externos, mas ficar centrado em si mesmo e na sua Fé, sem nunca desacreditar da Vida Maior, cujo amparo permeia todos os nossos caminhos diários.

Pensar que os Malandros podem nos ensinar tudo isso brincando, de um jeito tão despojado, é o bastante para se quebrar velho ditado que dizia: ”de onde não se espera é que não sai nada”. Porque as aparências enganam!...

Então, não vamos viver de aparências e nem pelas aparências. Vamos viver a vida com Amor, Respeito e Fé. Vamos acreditar em nosso poder interior, que é Deus em nós. Vamos aprender a nos centrar e a nos conhecer intimamente, despertando nossas capacidades e valores acumulados ao longo desta e de outras encarnações e que ainda dormem dentro de nós, mas que podem ser despertados pelo nosso querer, por nossa vontade de superar as dificuldades, por nossa firme determinação de curar nossos pensamentos menos felizes e de encontrar respostas para as nossas necessidades, para enfim chegarmos a um caminho de felicidade, aqui e agora.

Quando se está na frente de um Malandro da Umbanda, é bom que a gente reflita sobre isso.
Essas Entidades estão entre nós por um recurso da Misericórdia Divina, trabalhando pela continuidade da própria evolução e também em nosso favor. Então, nada de o consulente adotar “julgamentos apressados”, no sentido de que se poderia pedir a eles algum mal, um trabalho de magia negativa ou coisa do gênero. E nós, médiuns, não podemos cair na bobagem de achar que podemos dar vazão aos nossos impulsos menos nobres e começar a usar de palavreado chulo, ou desandar a beber e a fumar etc. etc., sob o pretexto de que foi “o malandro” (aqui, com “m” minúsculo, porque um Malandro, um Guia de Umbanda, não faz isso nunca!...).

Vamos recordar que os Malandros são Espíritos a serviço da Luz que vêm nos guiar, orientar e auxiliar; e que um Guia é sempre alguém mais elevado do que nós. Precisamos nos conduzir com honra, respeito, devoção e gratidão aos nossos Guias de Umbanda, para darmos continuidade à nossa evolução. É preciso estar no Terreiro, com em qualquer Templo, de alma e corpo presentes, por inteiro, pra valer.

Os Malandros são simples, amigos, leais e verdadeiros.

Mas se alguém pensa que pode enganá-los, então é desmascarado sem a menor cerimônia e na frente de todos, porque os Malandros não toleram a maldade, a injustiça ou a tentativa de se enganar aos mais fracos.

Nos Terreiros que adotam vestimentas características, quando incorporados em seus médiuns, os Malandros se apresentam vestidos com camisas listradas, alguns com camisas de seda, outros de terno e gravata brancos e chapéu ao estilo Panamá e às vezes de palha. Usam sapatos brancos, ou então bicolores (branco/preto; preto/vermelho) e gravata vermelha. Alguns usam cartola; outros, uma bengala (cajado).
Manipulam magisticamente fumos como charutos e cigarrilhas; e bebidas que vão desde aguardente, batidas, batida de côco, conhaque até uísque.
São cordiais e alegres. Parecem dançar a maior parte do tempo, mas com seus movimentos estão é recolhendo negatividades e purificando as pessoas e o ambiente.
Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los. Trabalham para curar, desmanchar magias negativas, proteger e abrir caminhos. Atuam muito na cura de problemas de cunho espiritual e emocional, particularmente no campo das chamadas doenças mentais (ansiedade, fobias, depressão, síndrome do pânico, compulsões, esquizofrenia etc.), pois seu magnetismo é bastante eficaz sobre os distúrbios originários de desequilíbrios do Sentido da Fé.
De modo geral, os Malandros se apresentam com uma fita vermelha no chapéu. Mas os que atuam na cura usam uma fita branca, símbolo do curador, ligado ao Pai Oxalá.
Dentro da Linha existem também as manifestações femininas, das quais Maria Navalha e Maria do Cais são os exemplos mais conhecidos.
Como regra geral, os Malandros não são Exus. São Entidades que integram Linhas de Trabalho distintas. Mas alguns Malandros se manifestam nas sessões de Esquerda, junto com os Exus.

Uma figura bastante conhecida dentro desta Linha é Seu Zé Pelintra.
Seu Zé, como é conhecido popularmente, é uma Entidade peculiar, pois tanto se manifesta na Direita quanto na Esquerda. Na Direita, ele vem como Malandro mesmo, ou como Baiano, ou ainda como Preto Velho quimbandeiro (isto é, voltado para o corte de magias negativas). E pode vir na Esquerda, como Exu. Por que será? Ora, uma das grandes características dos Malandros não é a flexibilidade? Pois então... Seja como for, ele é um Guia a serviço da Luz.
Já no Catimbó, Zé Pelintra é “doutor”, é um curador, é um Mestre da Jurema bastante respeitado. Na Jurema, Seu Zé Pelintra não tem a conotação de Exu, a não ser quando a reunião é de Esquerda, porque os Mestres da Jurema têm essa capacidade de pode vir tanto na Direita quanto na Esquerda. Na Esquerda, os Mestres vêm para cortar o mal.
No Catimbó, Seu Zé usa bengala (que pode ser qualquer cajado), cachimbo e faz uso ritualístico da cachaça. Dança côco, baião e xaxado e abençoa a todos, que o abraçam e o chamam de padrinho.

A personagem principal da “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque de Holanda, ao que consta, foi baseada nos modos e trejeitos de Seu Zé Pelintra.
E Itamar Assumpção, em parceria com Wally Salomão, compôs para Seu Zé Pelintra esta música, que leva o nome da Entidade:

Zé Pelintra desceu

Zé Pelintra baixou

É ele que chega e parte a fechadura

Do portão cerrado.

Zé Pelintra desceu

Zé Pelintra baixou

É ele quem chamega, quem penetra

Em cada fresta e rompe o cadeado.

E quando Zé Pelintra pinta na aldeia

O povo todo saracoteia

Aparta briga feia, terno branco alinhado

Cabelo arapuá de brilhantina besuntado.

Ele, do ovo, é a porção gema, bebe suco da jurema

Resolve impossível demanda

Homem elástico, homem borracha

Desliza quem nem vaselina

Saravá a sua banda.

É ele quem abre uma brecha

Acende uma tocha no breu

Desparafusa a rosca

Seu cavalo sou eu.

(Fonte: O site: do afro ao brasileiro ponto org.)


Contam-se muitas estórias sobre quem teria sido Zé Pelintra quando encarnado. Alguns dizem que viveu em Pernambuco, outros afirmam que viveu no Rio de Janeiro.
Porém, não podemos nos esquecer de que dentro da Linha dos Malandros, como nas demais Linhas de Trabalho da Umbanda, estão agrupados espíritos que tiveram encarnações diferentes entre si. O ponto central é sabermos que esses Espíritos não estão presos a seus antigos nomes e sim, que foram agrupados a partir de suas afinidades vibratórias e evolutivas e de suas especialidades (campos de atuação).

Nomes Simbólicos: Zé Pelintra, Zé Malandro, Zé do Côco, Zé da Luz, Zé de Légua, Zé Moreno, Zé Pereira, Zé Pretinho, Malandrinho, Camisa Preta, Camisa Listrada, Sete Navalhas, Malandro do Morro.
Algumas Entidades Femininas que se manifestam nesta Linha: Maria do Cais, Maria Navalha.

Dia da semana: Não há um dia específico, tendo em vista que a Linha tem um campo de atuação muito vasto e se manifesta tanto na Direita quanto na Esquerda. Os Malandros que trabalham na cura costumam ser mais associados ao sábado, regido por Saturno e Urano, planetas relacionados ao Orixá Obaluayê. Já os que trabalham no corte de demandas têm uma associação mais direta com a terça-feira, regida por Marte e relacionada aos Orixás Ogum, Yansã e Omolu.

Campo de atuação: Limpeza energética, purificação e equilíbrio; quebra de preconceitos; desapego; corte de magias negativas; abertura de caminhos para a prosperidade em geral (espiritual e material); cura espiritual, emocional, mental e física.

Ponto de Força: O Ponto de Força dos Malandros é na subida de morros, nas esquinas e encruzilhadas, aos pés de coqueiros e até em cemitérios, dependendo do seu campo específico de atuação.

Cor: Branco/preto; branco/vermelho; vermelho/preto.

Guias ou colares: Suas guias ou colares podem ser de vários tipos, tais como: confeccionadas com coquinhos; de contas de porcelana vermelhas e pretas, ou vermelhas e brancas, ou ainda pretas e brancas; de sementes (olho de cabra, olho de boi, obi branco); de pedras; de palha da costa com búzios.

Elementos de trabalho: Baralho, moedas, dados, palitos, palha da costa, pedras, pembas, sumos de ervas, barbante, linhas, fitas, búzios, sementes, côco, água de côco, terra, dendê, azeite de oliva.

Ervas: Quebra demanda; arruda; guiné; comigo-ninguém-pode; aroeira; palha da costa; levante; anis estrelado; algodoeiro; tapete de Oxalá; alecrim; jasmim; manjericão roxo; folha de bambu; folhas de laranja e de limão; folha de café; folha e semente de cacau; folha de beterraba; rama de cenoura; café em grão e em pó; urucum; folha de pitanga; folhas de palmeira e de coqueiro; folha de bananeira; tiririca; barba de velho; raízes; cipós; cabelo e palha de milho; louro; losna; agrião; coentro; orégano; noz moscada; pára-raio; espada de São Jorge; espada de Santa Bárbara; lança de São Jorge; mentas (vários tipos de hortelã); boldos (vários tipos); ervas amargas; salsinha.

Sementes: Olho de boi, olho de cabra, obi branco (ou noz de cola).

Fumo/defumação: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, ervas enroladas na palha.

Pedras: Variam, dependendo da forma de manifestação da Entidade Malandro.

Para os que vêm como Baianos: Quartzo branco leitoso; Cristal; Jaspe Vermelho; Granada; Citrino; Pirita; Topázio Imperial. No geral, as pedras brancas, vermelhas e amarelas- embora eles possam manipular muitas pedras diferentes, de acordo com a necessidade do trabalho.

Para os que vêm na Esquerda: Ágata Preta, Turmalina preta, Vassoura da Bruxa, Ônis, Quartzo Fumê, Mica Preta.

Para os curadores: Pedras brancas (Quartzo Branco transparente e leitoso, Calcita Ótica, Topázio Branco); Pedras índigo (Lápis-Lazúli, Sodalita) e ou Pedras violetas (Ametista, Cacochinita, Fluorita Lilás).

FONTE: Angélica Lisanty, livros: “Os Cristais e os Orixás”, 2088, páginas 83/85; “Elixir de Cristais”, 2006, páginas 101/113, ambos da Madras Editora.


Flores: Rosas e cravos vermelhos e brancos; flores vermelhas e amarelas.

Oferendas:
1- Um côco verde (separar a água); ervas; flores vermelhas e ou brancas; 7 linhas brancas e 7 pretas; 7 fitas vermelhas e 7 amarelas; frutas; 7 moedas de qualquer valor; 7 velas bicolores branco/preto. Forrar o chão com as ervas. Retirar a água do côco e reservar. Abrir o côco, tirando uma tampa, e colocar dentro dele as moedas. Colocar o côco no meio das ervas e em volta dele dispor, sempre em círculos: as flores; as frutas; as linhas, alterando as cores (branco/preto) e as fitas, também alternando as cores (vermelho/amarelo). Circular tudo com a água do côco. Em torno, firmar as velas e pedir prosperidade espiritual e material, em todos os sentidos. Quando as velas queimarem, retirar todo o material, caso a oferenda seja feita na Natureza.

2- Lascas de uma rapadura; lascas de fumo de rolo; um copo de melado de cana (ou oito pedaços pequenos de cana); um punhado de fubá; 7 sementes de olho de boi; 7 sementes de olho de cabra; 1 vela bicolor branco/preto; uma folha de bananeira lavada e cruzada com azeite de oliva. Abrir a folha de bananeira e sobre ela dispor as lascas de rapadura e as de fumo. Por cima, ir derramando o melado, fazendo círculos no sentido horário. Se optar por pedaços de cana, eles devem ser colocados da mesma forma. Circular com as sementes de olho de boi e depois com as de olho de cabra. Derramar o fubá sobre toda a oferenda, com a mão direita, em círculos horários. Na frente, firmar a vela e pedir limpeza, equilíbrio energético e cura (espiritual, mental, emocional e/ou física). Recolher tudo quando a vela queimar, se fizer a oferenda na Natureza.



Incensos: Quebra demanda, sete ervas.



Saudação: Salve os Malandros!



Cozinha ritualística:

1- Carne seca com abóbora: Dessalgar a carne seca, cortar em cubos e cozinhar. Guardar a água do cozimento. Refogar a carne já cozida com um pouquinho de dendê, azeite de oliva, cebola, alho, tomate e pimentão amarelo picados. Reservar. Na água do cozimento da carne, colocar para cozinhar pedaços de abóbora cortada em cubos, com o cuidado de não deixar amolecer demais. Juntar os pedaços de abóbora cozidos ao refogado da carne, misturar delicadamente e refogar por uns minutos, em fogo mínimo, com a panela tampada. Temperar com molho de pimenta, orégano e cheiro-verde (temperos a gosto).

2- Farofa de carne seca – Ingredientes: 350 g de carne seca; um pouquinho de dendê; 1 cebola grande picada; 2 dentes de alho amassados; 2 xícaras de farinha de mandioca torrada; cheiro-verde picadinho; 2 pimentas vermelhas picadinhas (retirar as sementes); orégano. Preparo: Deixar a carne seca de molho, de véspera, e ir trocando a água. Cozinhar e desfiar quando ela estiver já fria. Numa panela média, aquecer o dendê e dourar o alho e a cebola. Juntar a pimenta e refogar mais um pouquinho. Acrescentar a carne seca, deixando por alguns minutos, em fogo baixo e com a panela tampada, para que a carne absorva o sabor dos temperos. Juntar a farinha, mexer e retirar do fogo. Acrescentar os temperos.

3- Farofa de farinha de milho amarela com carne seca, mandioca, abóbora e pimentas .

4- Doce de abóbora feito com pedacinhos de gengibre e enfeitado com lascas de rapadura.

5-Cocada mole; doce de côco; doce de abóbora com côco.

6- Bolinhos de tapioca: Ralar um côco seco, juntar a água do côco, triturar bem no liquidificador. Colocar a tapioca de molho nessa mistura, até inchar. Fazer os bolinhos e grelhar ou assar. Servir com lascas de rapadura.

7-Feijão preto cozido sem sal e coberto com côco seco fatiado e milho amarelo.



(SETE PORTEIRAS)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

os Intolerantes-Alabê de Jerusalém-Altay Veloso




""Já que você deu licença pra esse Negro falar...
Não duvida da cabeça que tem coroa ou cocar
Nenhuma auréola resiste ao tempo sem se apagar
Se não tiver a serviço de Deus ou de um Orixá.
Nego velho vem de longe,minha crença tem estrada
Moço exijo respeito a sua voz é malcriada
Não seja tão leviano,respeite minha Aruanda
Tem quase cinco mil anos de existência minha Banda.
E as vezes corações que crêem em Deus, são mais duros que os ateus. 
E jogam pedra sobre as catedrais dos meus deuses Yorubás. 
Não sabem que a nossa terra é uma casa na aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam.
Num canto da casa quem com fervor procura ajuda tem o archote de Buda pra iluminar sua fé,
Lá onde a terra pouco verdeia,pra não se perder na areia, tem que ter lá na candeia a chama de Maomé.

Ah essa nossa terra é uma casa na aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam.(Clareia Zambi clareia...)""





Assisto com muita tristeza a pena da aspereza dilacerando a beleza de uma linda sinfonia. A aguarrás de juizes, ciumentos inflexíveis, descolorindo as matizes de uma linda pintura, só porque não gostam da assinatura!

Mas vai como uma bailarina, com a inocência de menina, dançando em volta do sol, a Grande Mãe Terra. Enquanto muitas nações, governos, religiões ensaiam a dança da guerra.

Ah na verdade a bola azul quase nunca foi amada; é sempre penalizada. Tem um trabalho enorme, dedicação e talento para preparar a mistura, juntar os seus elementos para dar forma às criaturas, e elas depois de paridas, desconhecem a matriarca e dizem mal agradecidas: que a carne é fraca.

E quando o planeta gera um Avatár, um iluminado assim como o Nazareno, tem logo quem se apresenta com conhecimento profundo e diz: não é desse mundo, só pode ser extraterreno.

Ah, é difícil entender porque é que o homem, até hoje, cospe no prato que come. Algumas religiões, não sei por qual motivo, dizem que a Terra é um território com vocação pra purgatório, não passa de sanatório... E que nós só seremos felizes longe dela, bem distante, lá onde os delirantes chamam de paraíso.

Olha, eu vou dizer na minha simples observação dia após dia, me perdoem a liberdade, mas religião de verdade mais parecida com a que Jesus queria, talvez seja a ecologia. Pra ela não tem fronteira e só reza um mandamento: preservação das espécies com urgência, sem adiamento.

Hoje, ela pensa nas plantas, nos rios, no mar, nos bichos. Amanhã, com certeza, com a mesma dedicação e capricho, pensará com muito cuidado nos meninos abandonados.


Ah, se ela tivesse mais força para sustentar sua zanga, evitaria com certeza a fome cruel de Ruanda.Ainda era uma menina quando a impertinência sangrou com a bola de fogo a pobre Hiroshima. Mas ela cresce, se instala como uma prece no coração das crianças,tenho muitas esperanças...

Eu tenho toda a certeza que o nosso planeta um dia mesmo cansado, exausto, terá toda a garantia e guardado por uma geração vigia, nunca mais verá a espada fria do Holocausto.

A intolerância eu repito, é a mais triste das doenças,não tem dó, não tem clemência. Deixa tantas cicatrizes nas pessoas, nos países, até as religiões, guardiãs da Luz Celeste, abandonam seus archotes para empunhar cassetete. E o que na verdade refresca o rosto de Deus, é um leque, que tem uma haste de Calvino e outra de Alan Kardec.Na outra haste, a brisa, que vêm das terras de Shiva,é uma dos franciscanos é outra dos beduínos. Não precisa ir muito longe... Jesus nasce entre os rabinos.
É nego velho tá cansado,chegou entusiasmado pra cumprir o prometido,
agora to meio perdido,mas fica por conta da idade,tá me faltando memória,já não falo coisa com coisa,perdi o fio da história,ah me desculpa minha gente,mas Alabê vai embora...



""As águas de Ocanaã banharam o seu corpo
O Ébano de Daomé do meu fez o seu porto
Nas bodas de Canaã o Xangô provou o vinho
O desejo de Iansã me colocou no seu caminho
Seus ancestrais de Ifé e os meus da Palestina
Pediram juntos à Javé,que abrisse as cortinas
Pra que ouvisse seu tambor soando através dos tempos
O meu fio condutor foi teu amor,teu sentimento
Alabê sábia é a Natureza minha face indefesa
Você não pode ver,mas se a intolerância diz
que Alabê blasfema
Ai meu amor serena,quero te ver feliz""


Ah minha bela Judite amor da minha vida onde estás???


""Por obra de Ocanaã estou nesse momento na mansão de Iansã
sou hóspede dos ventos
Por conta do nosso amor a estrela da Galiléia pos os raios de Xangô nos candelabros da Judéia.""


To com os olhos cheios d'água!!!


""Alabê sábia é a Natureza minha face indefesa
Você não pode ver,mas se a intolerância diz
que Alabê blasfema
Ai meu amor serena,quero te ver feliz.""


Judite!Meus olhos encheram d'água pra apagar essa chama da intolerência insâna que com soberba e com frieza nos homens colca venda pra que não vejam a beleza
das diferenças entre nós.


""Odoyá Yemanjá...Opará...Mogbá...Eparrêy...Saluba Nanã...Ora yê yê...""


São os anéis da Oxum,as contas de Yemanjá,a serenidade de Nanã,a valentia de Oyá
Benditas sejam essas moças Deusas da natureza,que tiveram a gentileza de cuidar de Oxalá,uma dando seu ventre essa é a mais sagrada,Vai perpetuar seu nome. Saudação: Ora yê yê ô...Saluba Nanã saluba...Bendito esse seu destino que preparou sua carne pra ser avó do Menino,e essa vida um bom começo é a educação de DEUS.

""Oxalá,Jesus orai por nós,por nós...""

Olha a voz de Yemanjá sofrendo a dor do exílio,ela que cuidou dos filhos quando abriu o mar vermelho é hoje apenas sereia no reflexo do espelho.
Estala Yansã,e instala sua ventania na escrita da cabala,sua luz é um poema nos olhos de Madalena.
Do olho d'água nasce um rio tão admirável e fecundo,
Não há nenhum paralelo na história do nosso mundo quanto a saga das mulheres que cuidaram de Jesus,Áh...talvez seja por isso que Jerusalém não dorme
ela também é mulher,é mãe,são obrigações enormes,doa vida,ergue a cruz e sofre de febre intensa quem de Deus teve a licença prá conviver com a presença da treva e da luz.
Treva que sempre consome toda doçura dos homens...
A escuridão dá medo...
Semeia desassossego e ela é cruel é voraz,chegou pra roubar a vida,chegou bem as escondidas,bota sua voz suicida nos lábios de Caifaz....""