quarta-feira, 13 de abril de 2016

Volta, Caboclo!




Vem das tuas verdes matas para o recesso da minha mediunidade saudosa dos teus benditos
fluídos!
Vem incensar minh’alma com o aroma da tua presença querida, fazendo ecoar em meus ouvidos

atentos, o “quiô” da tua vibração!

Vem trazer-me o calor das tuas palavras fluentes, traduzidas na sonoridade das folhas das
palmeiras quando se espanam no ar…
Quero, contigo, apanhar as folhas da Jurema para adornar todo o meu Juremá… Cruzar meu
caminho com galhos de arruda e enfeitar minha gira com ramos de guiné…
Vem… Traz o teu arco forte e a tua flecha certeira… Vamos, numa só vibração, penetrar no seio
da mata virgem, procurar o inimigo que lá se esconde e desarmá-lo, à pujança do teu braço forte!
Volta, Caboclo! Coloca em minha fronte o teu belo cocar… e entrosa em mim, tua essência pura
de aromáticos jardins, contida em tão pequeno frasco!
Como podes usar-me, tu, enviado bendito das falanges superiores, para cumprimento da tua
missão? A que sacrifícios se submete a tua aura, pois, sendo tão grande, consegue incorporar-se num
tão diminuto ser!… Mesmo sabendo-me o mais insignificante dos teus médiuns, rogo-te, com ânsias
desesperadas na voz e uma saudade torturante em meu coração: “Volta ao teu reino de luz onde

impera a verdadeira caridade! Volta ao teu pegi de amor onde te aguardam, ansiosos, os teus filhos de
fé e o teu modesto aparelho receptor…
As ondas vibráteis da minha mediunidade querem voltar a funcionar ao toque das tuas
abençoadas mãos… Teu regresso será uma festa emocional onde as lágrimas mal contidas se
confundirão com o sorriso de algumas criaturas que não sabem chorar…
Teu ponto riscado iluminado está… teu ponto cantado, entoado num só diapasão de voz, te
abrirá ao nosso meio, para aconchego dos que reconhecem em ti, um trabalhador no campo sublime
da caridade!…
Teu assobio atrairá a atenção daqueles que ainda te creem em missão no Alto e de pronto,
estarás entre nós, numa vibração harmoniosa que a todos envolverá.
Volta, Caboclo! Sem ti sou qual ave sem ninho… Pássaro sem asa… Árvore sem ramagens…
Volta, Caboclo… Minha cabana te espera… A copa dos arvoredos se cobre de flores ao ciclo
mágico da primavera… O perfume dos jasmins perpassa pelo ar e o caminho do teu regresso está se
aromatizando de incenso, mirra e de benjoim…
Curumins alegres – os teus curumins – vestidos de branco, irão espalhando, pela orla do vale,
pétalas cheirosas à tua passagem… Nos cuités, haverá a água de coco fresquinha, o aluá e o néctar
precioso que as abelhas produzem… Vem… Tudo se prepara para tua chegada… Os tambores saudarão
a tua vinda junto com os aplausos daqueles que respeitam e reconhecem o valor da tua gira!
Volta, Caboclo! Minhas mãos te buscam na sinceridade DESTA súplica onde se patenteia o meu
amor por ti e a gratidão ao Médium Supremo por me ter apontado para ser teu pequenino médium!
Volta, Caboclo… Volta…

Autor Desconhecido – Publicado por: Atila Nunes em Antologia de Umbanda.

Salve Maria Padilha



O que Falta na Umbanda?




O que Falta na Umbanda?

Dia destes, ao final de uma gira de desenvolvimento mediúnico, manifestou-se Pai João de Angola, o Preto Velho regente da casa.
Como de costume, acendeu seu cachimbo, cumprimentou os presentes e chamou todos para bem perto dele e após se acomodarem ele pediu que todos respondessem uma pergunta simples:
“ – Do que a Umbanda precisa?”
E assim um a um foram respondendo:
" – Mais união...”
“ – Mais estudo...”
“ – Mais divulgação...”
“ – Mais respeito...”
“ – Mais reconhecimento...”
Mais, mais e mais...
Após todos manifestarem suas opiniões, Pai João sorriu e disparou:
“ – Muito se diz do que a Umbanda precisa, não é? E eu digo que a Umbanda precisa de Filhos!”
Silêncio repentino no ambiente.

POMBA GIRA É OU FOI PUTA?!






 Bom, pra começar pombagira, pombogira, bombogira, todas essas nomenclaturas são corruptelas da palavra Bantu "Bongbogirá" que quer dizer exú. O costume adaptou essa palavra para denominar a companheira de Exu, o que é absolutamente aceito por elas.

Então, foram putas?
Não necessariamente, e essa questão é delicada. Estamos falando de uma religião (Umbanda) criada no começo do século XX, com espíritos remanescentes da escravidão, e de um Brasil precário e bem preconceituoso, onde a mulher era explorada das formas mais desumanas, e seus direitos praticamente não existiam. Quando esses espíritos começaram a incorporar traziam essa origem pobre, essa vida calejada, e sim, muitas foram putas para sobreviver, e isso era comum, pois se analisarmos o século XIX para trás a mulher era um objeto do homem.
Lembra da história de que a primeira impressão é tudo? Então, o estigma da puta ficou com as Pomba Giras.
Maaas esses espíritos souberam usar isso de forma maravilhosa, pois com esse rótulo levantaram a bandeira das que não tinham voz, pois toda mulher que sofria opressão as procuravam, por imaginar que por elas terem sofrido tanto poderiam acolhe-las, e era exatamente assim.
Mas então, eram putas? Sim e não. Alguns espíritos foram, outros não. Nem todas as Pomba Giras foram putas, muitas foram rainhas, condessas, advogadas, marquesas, trabalhadoras da indústria...mulheres comuns. Nós encarnados fantasiamos demais sobre a origem delas, que são trabalhadoras que passaram pela terra e trabalham no astral para auxiliar os encarnados.
Mas, porque estão sempre de peito de fora? Essas representações são somente imagéticas, herança desse passado, que particularmente, acho super válido. A Pomba Gira é um símbolo de poder feminino, e não acho que seja ofensivo mostrar o que os homens também mostram e não são reprimidos. Claro que em uma gira isso não acontece, é preciso que tenhamos essa consciência, afinal o espírito SEMPRE vai respeitar o livre arbítrio do seu cavalo, não colocando-o em situações constrangedoras ou perigosas.
Por fim, as que foram putas são maravilhosas e MOJUBÁ! As que foram da nobreza também são maravilhosas e MOJUBÁ! Vamos acabar com esse preconceito nosso também de recriminar as que foram putas, porque Exú não exclui, só inclui, né?! Axé!

Texto de Marcelo Moreno

"Magia do Axé"