segunda-feira, 9 de maio de 2011

DIALOGO COM UM EXECUTOR-RUBENS SARACENI

 
Capítulo 1       O Acidente
1°. de agosto de 1953, porto de  Santos.De um enorme cargueiro europeu, descarregaram vários carros luxuosos importados da Itália. Eram automóveis requintados, que nem por sonho teríamos aqui no Brasil então.Eram oito automóveis, e teríamos que entregá-los em várias regiões do estado de São Paulo, e em outrosestados limítrofes.Eu, Mário Silva Ventura, neto de italianos, era motorista da agência importadora e guiava um deles até o seunovo proprietário. Três dias depois do desembarque dos automóveis, os papéis alfandegários chegaram, e logocomeçaram a ser despachados pela agência importadora.Um deles foi confiado a mim, e com os papéis nas mãos, eu e mais um amigo partimos rumo a São Paulo,Capital. Assim que chegássemos, iríamos tomar a direção do estado de Minas Gerais. Íamos em dois, pois nãodeveríamos parar antes de entregá-lo ao seu comprador, um secretário de estado mineiro.Era um deputado riquíssimo que possuía imensas fazendas naquele estado e exercia o cargo de secretário denegócios do interior. Seu nome pouco importa, pois nem gosto de relembrá-lo, e logo você saberá o porquê.Bem, chegamos a São Paulo, almoçamos e reabastecemos o carro para então iniciarmos a longa viagem atéBelo Horizonte. Como não iríamos parar senão para comer e reabastecer o veículo, nos revezaríamos no volante.Hoje essa viagem pode ser fácil, mas não em 1953. As longas viagens eram difíceis, e meu companheirotambém era mecânico porque se algo acontecesse no caminho, não teríamos a quem recorrer para o conserto que sefizesse necessário.Viajamos o resto da tarde e só paramos já ao anoitecer. Jantamos e reabastecemos o carro. Dali em diante,eu dirigiria até o amanhecer. Meu amigo iria cochilar. Quando eu me cansasse, ele assumiria o volante até BeloHorizonte.No silêncio da noite, eu dirigia com atenção pela tortuosa rodovia. A velocidade não era superior aos 60 kmhorários, pois éramos proibidos de ultrapassá-los pelo importador, que temia qualquer dano aos seus luxuososveículos.Por volta das três horas da manhã, já em solo mineiro, eu vi vindo em sentido contrário, um veículo queparecia ser um caminhão. Vinha em alta velocidade e aquela hora e local eram impróprios para fazer tal coisa.Por descuido ou má intenção, ele jogou o veículo em minha direção quando estava a menos de vinte metros.Fiz uma manobra rápida na tentativa de sair de sua frente e despenquei por uma íngreme ribanceira. Meu amigodormia no banco traseiro e acordou com os solavancos do carro que despencava ladeira abaixo e com os meus gritosde susto e medo.Tudo foi muito rápido. Senti uma forte pancada na cabeça, ficando desacordado dentro do carro. Ainda sentiquando me retiraram do meio das latarias retorcidas, mas estava muito tonto, e caí desacordado no solo novamente.Algum tempo depois, quanto eu não sei, acordei. Estava deitado perto de uma árvore e meu corpo e minhacabeça doíam muito. Vi várias pessoas em volta do carro. Lá estava meu companheiro de viagem, com um braço e acabeça enfaixados. Gesticulava muito com o braço direito e falava sem parar, mas eu não ouvia o que ele dizia poisestava muito longe de mim.Vi o tal secretário irado por ver o carro todo retorcido. Quando tentei me levantar, uma dor imensa na cabeçaobrigou-me a ficar deitado imóvel. Em dado momento, eles se aproximaram de mim, e então pude ouvir o que diziam.Marcos, o meu companheiro dizia:- Isto é impossível! Eu dormia no banco de traz e teria sentido se Mário estivesse fazendo tal coisa.- Pois é a pura verdade, senhor secretário! - justificou-se um homem.- Ele começou a levar o carro de um lado para o outro da pista, e fiquei sem saber se ficava no meu lado oume desviava. Quando tentei desviar para a outra faixa de direção, ele também a tomou, e foi direto para fora daestrada. Eu "ferrei" o caminhão, mas só evitei a colisão, e não tive a menor culpa por sua queda neste abismo.- É mentira! - falei eu com dificuldade, pois mal conseguia respirar. Aquela tentativa de me defender causou-me muita dor. Calei-me.- Este idiota mereceu morrer! - gritou irado o secretário de estado.- Vejam o que fez ao meu lindo automóvel. Filho de uma P...! Deviam estar bêbados, divertindo-se com meucarro....
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