terça-feira, 10 de maio de 2016

O primeiro Preto Velho



Uma antiga lenda contada por velhos juremeiros do Nordeste diz que o primeiro mestre negro
que chegou no Brasil se chamava Joaquim. Este era seu nome de batismo cristão. Seu nome africano,
provavelmente em língua kimbundu, se perdeu.
Mestre Joaquim era sábio de nascença. Na Mãe África, em terras de Angola, desde cedo ele
observava os kimbandas ou curandeiros locais. Joaquim aprendia tudo o que via. Levado por um tio
materno, um grande kimbanda, ele recebeu cedinho a sua iniciação no culto.
Joaquim foi ensinado a observar a Natureza e a descobrir o mistério atrás de cada folha, raiz e
árvore. Mãe Ntoto, o grande Nkizi (espírito natural e transcendente) da Terra, acolheu o jovenzinho
e transmitiu sua bênção regeneradora a ele.
Crescido, o rapaz não teve tempo de formar família. Guerras tribais o levaram longe da aldeia,
onde foi aprisionado e embarcado para a distante nação brasileira. Desembarcando em porto nordestino,
foi vendido. Trabalhou na lavoura dia após dia. Quieto, mas não passivo, observou o
sofrimento de seu povo. Nas poucas horas de tranquilidade atendia aos doentes. Com o auxílio dos
espíritos de Mãe Ntoto, descobriu as funções das ervas que aqui cresciam. Preparava breves, poções
e mezinhas.
Quando tinha chance, amoitava-se e penetrava no mato, onde falava com os espíritos locais,
invocava os ancestrais e rezava aos Minkizi (o conjunto dos Nkizi).
Certo dia foi procurado por um índio velho, que administrava uma pequena propriedade de um
capataz branco. O índio tinha observado as atividades de Joaquim no mato e ficou muito curioso...
Uma amizade forte e espiritual nasceu deste encontro. Foi com este índio que Joaquim conheceu os
poderes da Jurema.
Numa noite ele bebeu da cuia de Jurema do velho tuxaua, sentiu seu corpo frio como a morte,
percebeu a mente crescer e ganhar asas... A alma de Joaquim voou pelos céus e viu as casas ficarem
pequeninas, a Lua ficar mais perto e as estrelas parecerem mais brilhantes. Lá no firmamento
parecia existir uma luz desconhecida e ele seguiu até lá. O luzeiro foi ficando mais perto e Joaquim
encontrou uma aldeia, com gente, casa e tudo. Um cacique desconhecido chegou perto dele e o
recebeu com alegria e dignidade. Joaquim entrara misteriosa na Cidade dos Mestres, na Aldeia do
Juremal! O que ele realmente viu e aprendeu lá nunca contou a ninguém. Mas quando voltou à terra
dos encarnados, ele não era mais um Joaquim, era o Mestre Joaquim!
O tempo corria e nosso mestre, ainda escravo, foi consumindo seu corpo no serviço desumano
imposto a sua raça. Um tarde ele se aconchegou depois do trabalho, fechou os olhos e morreu. Sua
alma foi levada novamente para a Cidade Santa e entrou triunfalmente no santuário da Mãe Jurema,
louvado pelos mestres e mestras, profetas e guerreiros.
Certa madrugada uns caboclos montaram uma mesa (sessão espiritual de jurema), cantaram e
abriram as portas reais. Os mestres do Outro Mundo foram baixando um após o outro. Tudo era
harmonia e beleza! Um caboclo maduro e mais escuro cantou:
“Mestre Joaquim, é kimbanda!
Veio trabalhar, é kimbanda!
Mestre Joaquim é de Angola,
é kimbanda! É kimbanda!”*
(Nos Pontos ou Linhos mais modernos e populares, a palavra “é kimbanda”, ou seja “é curandeiro”,
transformou-se em “esquimbanda”. Daí perdemos o sentido tradicional africano.)
Esta foi a primeira vez que Mestre Joaquim acostou (baixou ou incorporou na linguagem dos
juremeiros) e desde então começou seu eterno exercício de caridade, fruto do amor maior e da
ciência sublime. Mestre Joaquim de Angola, de cachimbo na mão e chapéu na cabeça: o Rei negro da
Jurema Sagrada! O tempo passou depressa... A Umbanda ainda não tinha nascido, mas Mestre
Joaquim já procurava outros agrupamentos para levar a sua missão. O negro bantu nunca temeu seus
ancestrais e sempre colocou suas almas benditas no coração quente que batia de saudades. Lá nas
praias do Nordeste, nas montanhas de Minas Gerais ou no sopé dos morros cariocas, nosso mestre
juremeiro africano batia sua bengala e dava seu nome: Pai Joaquim de Angola! Imagem da bondade,
da sabedoria e da humildade.
Quando a Umbanda veio a este mundo, gestada na luz de Cristo, no Axé dos Orixás e Minkizis e
abençoada pela energia dos pajés, Pai Joaquim foi um dos primeiros guias a se apresentar.
Afinal já era preto velho diplomado! Pai Joaquim baixou e nunca parou de trabalhar.
“Pai Joaquim, ê, ê,
Pai Joaquim, ê á,
Pai Joaquim veio de Angola,
Pai Joaquim é de Angola, Angola á!”
*Usamos neste artigo a palavra Kimbanda em seu sentido tradicional: curandeiro ou xamã
bantu. Não é, portanto, uma referência ao quimbandeiro ou praticante da Quimbanda, culto
sincrético com poucos elementos bantu.



por Edmundo Pellizari (RAS ADEAGBO) Fonte:Jornal de Umbanda sagrada


Prece-poema a “Pai Benedito de Aruanda”





Meu bondoso Preto-Velho!

Aqui estou de joelhos, agradecido constrito, aguardando sua benção.

Quantas vezes com a alma ferida, com o coração irado, com a mente entorpecida pela dor da injustiça eu clamava por vingança, e Tu, oculto lá no fundo do meu Eu, com bondade compassiva me sussurravas: ESPERANÇA.

Quantas vezes desejei romper com a humanidade, enfrentar o mal com maldade, olho por olho, dente por dente, e Tu, escondido em minha mente, me dizias simplesmente:

"Sei que fere o coração a maldade e a traição, mas, responder com ofensas, não lhe trará a solução. Pára, pensa, medita e ofereça-lhe o perdão. Eu também sofri bastante, eu também fui humilhado, eu também me revoltei e também fui injustiçado. 

Das savanas africanas, moço, forte, livre, num instante transformado em escravo acorrentado, nenhuma oportunidade eu tive. Uma revolta crescente me envolvia intensamente, porque algo me dizia, que eu nunca mais veria minha Aruanda de então, não ouviria a passarada, o bramir dos elefantes, o rugido do leão, minha raça de gigantes que tanto orgulho tivera, jazia despedaçada, nua, fria, acorrentada num infecto porão.

Um ódio intenso o meu peito atormentava, por que OIÀ não mandava uma grande tempestade? Que Xangô com seus raios partisse aquela nave amaldiçoada, que matasse aquela gente, que tão cruel se mostrara, que até minha pobre mãezinha, tão frágil, já tão velhinha, por maldade acorrentara. E Iemanjá, onde estava que nossa desgraça não via, nossa dor não sentia, o seu peito não sangrava? Seus ouvidos não ouviam a súplica que eu lhe fazia? Se Iemanjá ordenasse, o mar se abriria, as ondas nos envolveriam; ao meu povo ela daria a desejada esperança, e aos que nos escravizavam, a necessária vingança.

Porém, nada aconteceu, minha mãezinha não resistiu e morreu; seu corpo ao mar foi lançado, o meu povo amedrontado, no mercado foi vendido, uns pra cá, outros pra lá e, como gado, com ferro em brasa marcado. 

Onde é que estava Ogum? Que aquela gente não vencia, onde estavam as suas armas, as suas lanças de guerra? Porém, nada acontecia, e a toda parte que olhava, somente um coisa via... terra.

Terra que sempre exigia mais de nossos corpos suados, de nossos corpos cansados. 

Era a senzala, era o tronco, o gato de sete rabos que nos arrancava o couro, era a lida, era a colheita, que para nós era estafa, para o senhor era ouro.

Quantas vezes, depois que o sol se escondia, lá no fundo da senzala, com os mais velhos aprendia, que o nosso destino no fim não seria sempre assim, quantas vezes me disseram que Zambi olhava por mim...

Bem me lembro uma manhã, que o rancor era grande, vi sair da casa grande, a filha do meu patrão. Ingênua, desprotegida, meu pensamento voou: eis a hora da vingança, vou matar essa criança, vou vingar a minha gente, e se por isso morrer, sei que vou morrer contente. 

E a pequena caminhava alegre, despreocupada, vinha em minha direção, como a fera aguarda a caça, eu esperava ansioso, minha hora era chegada. Eu trazia as mãos suadas, nesse momento odioso, meu coração disparava, vi o tronco, vi o chicote, vi meu povo sofrendo, apodrecendo, morrendo e nada mais vi então. Correndo como um possesso, agarrei-a por um braço e levantei-a do chão.

Porém, para minha surpresa, mal eu ergui a menina, uma serpente ferina, como se fora o próprio vento, fere o espaço, errando, por minha causa, o seu bote tão fatal; tudo ocorreu tão de repente, tudo foi de forma tal, que ali parado eu ficara, olhando a serpente que sumia no matagal. 

Depois, com a criança em meus braços, olhei meus punhos de aço que deviam matá-la... olhei seus lindos olhinhos que insistiam em me fitar. Fez-me um gesto de carinho, eu estava emocionado, não sabia o que falar, não sabia o que pensar.

Meus pensamentos estavam numa grande confusão, vi a corrente, o tronco, as minhas mãos que vingavam, vi o chicote, a serpente errando o bote... senti um aperto no coração, as minhas mãos calejadas pelo machado, pela enxada, minhas mãos não matariam, não haveria vingança, pois meu Deus não permitira que morresse essa criança. 

Assim o tempo passou, de rapaz forte de antes, bem pouca coisa restou, até que um dia chegou, e Benedito acabou...

Mas, do outro lado da morte eu encontrei nova vida, mais longa, muito mais forte, mais de amor e de perdão, os sofrimentos de outrora já não importam agora, por que nada foi em vão...

Fomos mártires nessa vida, desta Umbanda tão querida, religião do coração, da paz, do amor, do perdão". 



(Escrito por Pai Ronaldo Linares, em 20 de Outubro de 1964

Linha e Arquétipo dos Pretos Velhos




O balanço do navio ainda enjoava. Não sei o que mais enojava, se era o balanço do navio ou a visão mórbida de tantos corpos de meus confrades empilhados e já sem vida. Se o mau cheiro e a falta de espaço ou ainda os grilhões que nos prendiam.
Triste sorte, quem são estes animais hominídeos que nos amarravam, batiam e subjugavam?
Zâmbi estaria revoltado conosco? Ou os Orixás se esqueceram de seu povo?
Pensando assim é que muitos dos nossos não puderam se aproveitar da oportunidade em viver a escravidão. Processo este que se por um lado mancha a história da humanidade, por outro, “lavou a alma” de milhares de espíritos que na carne sentiram o gosto amargo da prestação de contas com o Criador.Todos sabem que quando os africanos foram escravizados, a Igreja logo tratou de justificar isso,tirando nossa alma, assim fizeram com nossos irmãos indígenas. Claro, é mais fácil arrancar-lhe a alma ao ter que conviver com a consciência.
Não vou aqui estender aos interesses dos colonizadores ou acusá-los. Vou tentar mostrar o lado bom desta sangrenta moeda.
Acontece que na Mãe África as coisas não iam tão bem quanto parece nos contos. Nosso povo era bem desenvolvido, no entanto, totalmente dirigido pelo mito, este que ditava nossas diretrizes e no
qual justificávamos nossos atos. Atos estes nada bons.
É certo que o homem tem necessidade de conquista e expansão. Diferentemente dos índios, nos digladiávamos em busca de riquezas e poderio, o que é pior, justificando como vontade dos Orixás, foi assim que a tribo de Ogum, formada por homens geneticamente mais avantajados, pontificou este
Orixá como o Senhor das Guerras e da Milícia...
Neste sentido, o povo africano estava se distanciando da vida natural ou da conservação da vida,não foi diferente com nossos irmãos ocidentais que jogaram a culpa em Jesus e saíram conquistando terras pela lâmina da espada, bem, mas isso é dívida deles.Com a escravidão, nós tivemos a oportunidade de nos reconhecer como semelhantes, uma vez que a rincha em tribos era feroz. Subjugados tivemos tempo para pensar em nossos atos, fazer brotar a humildade, simplicidade, resignação e principalmente o amor à vida. Todavia, para os companheiros que chegaram nesta conclusão entendo que cumpriram com o propósito Divino, porém, não foi simples assim, muitos outros milhares caíram no ódio, vingança e toda sorte de sentimentos contrários à evolução necessária.Perdoar o seu algoz talvez seja a chave mais certa para a iluminação!
Sabedoria, eis o que simboliza a Linha dos Pretos Velhos, mas saiba leitor, esta sabedoria só existe pela vivência, por experiência, não se compra, não se lê, simplesmente vive.Humildade, sentimento este simples de entender. Se coloque como parte do meio que você vive.Ao invés de querer ser expoente, ou líder, ou coisa do tipo, procure somar, contribuir para solidificar.
Veja o Brasil, a fama da construção deste país recai nos ombros dos Europeus que casa alguma teria erguido sem os braços negros do nosso povo. A meu ver, mais vale o que é concreto do que é falácia.
Já no Astral o povo africano que tinha se redimido de seus débitos milenares, e já com a “alma lavada” foi convocado pelos Mestres da Luz a formar a linha de trabalho espiritual em auxílio dos encarnados, surge assim o Grau Preto-Velho, onde se assentaram os nativos africanos, que pontificava paralelamente com o grau Caboclo; enquanto os índios traziam a jovialidade, determinação e pureza natural, nós contribuiríamos com o culto aos Orixás, bem organizado. Com a experiência do ancião e a mandinga que cura e afasta todo mal.Desta forma iniciava um entrosamento perfeito e renovado no Astral que sustenta tantos encarnados nas mais variadas religiões.Assim é o arquétipo da linha dos africanos, baseado no ancião, no simples e sábio.
Estamos à disposição daqueles que apesar do coração oprimido ainda se permitem acreditar sem perder a fé e a esperança, levar graça aos desgraçados, amor aos desiludidos.
Mantemos o arquétipo do velho arcado, para que assim possamos nos aproximar dos humildes.
Somos os Pais Velhos, Preto-Velho, Africano, Saravá o Orixá!







por Rodrigo Queiroz

ditado por Pai João de Angola




Fonte: este texto faz parte da apostila que compõe o material de estudos do curso Arquétipos da Umbanda, desenvolvido e ministrado por Rodrigo Queiroz.

Preto-velho na Cultura Brasileira e na Umbanda



Pai Antonio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de Umbanda em seu médium
Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu
esta “linha” para nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.
O “Preto-velho” está ligado à cultura religiosa Afro Brasileira em geral e à Umbanda de forma
específica, pois dentro da Religião Umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de
sua liturgia, representa uma “linha de trabalho”, uma “falange de espíritos”, todo um grupo de
mentores espirituais que se apresentam como negros anciões, ex-escravos, conhecedores dos Orixás
Africanos.
São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e coletivas, que valorizam o
grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja, são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e
Vó Maria, por exemplo.
Milhares de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho despersonalizado do elemento
individual valorizando o elemento coletivo identificado pelo termo genérico “preto-velho”. Muitos até
dizem “nem tão preto e nem tão velho” ainda assim “preto velho fulano de tal”. A falta de informação
é a mãe do preconceito, e, no caso do “preto-velho”, muitos que são leigos da cultura religiosa
Umbandista ou de origem africana desconhecem o valor do “preto-velho” dentro das mesmas.
Preto é Cor e Negro é Raça, logo o termo “preto-velho” torna-se característico e com sentido
apenas dentro de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria
“Negro Velho”, “Negro Ancião” ou ainda “Negro de idade avançada” para identificar o homem da raça
negra que se encontra já na “terceira idade” (a melhor idade). Por conta disso alguns se sentem desconfortáveis
em utilizar um termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um amável
senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de homem
sofrido, que na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a
alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo de encontro à
imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns preferem chamá-los apenas de “Pais Velhos” o que é bonito ao ressaltar a paternidade,
mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles que souberam passar
por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se
autoafirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos
que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a oportunidade
de dar o testemunho de nossa fé.
O “preto-velho” é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia umbandista.
Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos se identificam e muitos outros que não foram escravos,
nesta condição, assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no
astral.
No imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns formadores de opinião, a
imagem do “preto-velho” pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que
se assustam “com estas coisas”, pois não sabem que a Umbanda é uma religião, e como tal tem a
única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e desenvolvendo o sentimento
de amor ao próximo. Não existe uma Umbanda “boa” e uma Umbanda “ruim”, existe sim única
e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é Umbanda e assim é com os
“Preto-velhos”, todos fazem o bem sem olhar a quem, caso contrário não é de fato um “preto-velho”,
pode ser alguém disfarçado de “velho-negro”, o “preto velho” trabalha única e exclusivamente para a
caridade espiritual.
São espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência não temos raça nem
cor, a cada encarnação temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o “mistério
ancião”, pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e
reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva.
Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e “preto-velho” fala devagar,
bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouvi-lo, parece-nos ouvir na língua
Yorubá a palavra “Atotô”, saudação a Obaluaê que quer dizer exatamente isso: “silêncio”.
Nas culturas antigas o “velho” era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento
ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições
religiosas mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural
religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa história pode ir buscar, tão antigos também são
alguns dos pretos-velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do karma, já desvendaram o
manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás
no caminho evolutivo.
Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos escravos eu os saúdo: “Salve
os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluaê, Atotô meu
Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Boroquê, Saluba Nanã!”.
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e
fumam cachimbo.

por Alexandre Cumino