segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A popularidade de Pombagira


 Com a liberação da mulher, vieram a respon­sabilidade, os direitos e os deveres.  Pombagira popularizou-se com a expansão da Umbanda e dos demais cultos afro-brasileiros nos anos 60 e 70 do século XX e, em meio a multiplicidade de cultos com ela presente em todos, sua força era indiscutível e sue poder foi usufruído por todos os que iam se consultar com ela.  Não demorou a descobrirem que ela atendia a todos os pedidos, inclusive aos de “amarrações para o amor”, para “separação de casais” e outros pedidos bem terrenos dos humanos.
 Como ninguém se preocupou em fundamentá-la en­quanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina, temidíssima justamente em um dos campos mais controvertidos da natureza dos seres, que é justamente o da sexualidade, eis que não foram pou­cas as pessoas que foram pedir o mal ao próximo e adqui­riram terríveis carmas, todos ligados aos relaciona­men­tos amorosos ou passionais.
Nada como pedir para as “moças da rua” coisas que não seriam muito bem vistas pelo “povo da direita”.
Assim, Pombagira tornou-se a ouvinte e conselheira de muitas pessoas com problemas nos seus relacio­namentos amorosos, procurando atender a maioria das solicitações, fixando em definitivo um arquétipo poderoso e acessível a todas as classes sociais.
Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males congênitos, que acom­panham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das entidades espirituais, tais como os pedidos de jóias e per­fumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas e mais oferendas caríssimas; de assenta­men­tos luxuosos e os­tentativos; de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por encarnados, etc.
Pombagira também serviu de desculpa para que al­gumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.
Ainda que hoje saibamos que elas são esgotadoras do íntimo das pessoas negativadas por causa de decep­ções e frustrações nos campos do amor, no entanto ainda hoje vemos um caso ou outro que atribuem à Pombagira o fato de vibrarem determinados desejos ou compulsões ligadas ao sexo.  Mas a verdade indica-nos exatamente o contrário disso, ou seja, a “mulher da rua” atua esgotando o íntimo de pes­soas e de espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é uma de suas muitas funções na Criação.

Texto extraído do livro “Orixá Pombagira”
de Rubens Saraceni, Editora Madras.

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