Com a liberação da mulher, vieram a responsabilidade, os direitos e os deveres. Pombagira popularizou-se com a expansão da Umbanda e dos demais cultos afro-brasileiros nos anos 60 e 70 do século XX e, em meio a multiplicidade de cultos com ela presente em todos, sua força era indiscutível e sue poder foi usufruído por todos os que iam se consultar com ela. Não demorou a descobrirem que ela atendia a todos os pedidos, inclusive aos de “amarrações para o amor”, para “separação de casais” e outros pedidos bem terrenos dos humanos.
Como ninguém se preocupou em fundamentá-la enquanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina, temidíssima justamente em um dos campos mais controvertidos da natureza dos seres, que é justamente o da sexualidade, eis que não foram poucas as pessoas que foram pedir o mal ao próximo e adquiriram terríveis carmas, todos ligados aos relacionamentos amorosos ou passionais.
Nada como pedir para as “moças da rua” coisas que não seriam muito bem vistas pelo “povo da direita”.
Assim, Pombagira tornou-se a ouvinte e conselheira de muitas pessoas com problemas nos seus relacionamentos amorosos, procurando atender a maioria das solicitações, fixando em definitivo um arquétipo poderoso e acessível a todas as classes sociais.
Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males congênitos, que acompanham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das entidades espirituais, tais como os pedidos de jóias e perfumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas e mais oferendas caríssimas; de assentamentos luxuosos e ostentativos; de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por encarnados, etc.
Pombagira também serviu de desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.
Ainda que hoje saibamos que elas são esgotadoras do íntimo das pessoas negativadas por causa de decepções e frustrações nos campos do amor, no entanto ainda hoje vemos um caso ou outro que atribuem à Pombagira o fato de vibrarem determinados desejos ou compulsões ligadas ao sexo. Mas a verdade indica-nos exatamente o contrário disso, ou seja, a “mulher da rua” atua esgotando o íntimo de pessoas e de espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é uma de suas muitas funções na Criação.
Texto extraído do livro “Orixá Pombagira”
de Rubens Saraceni, Editora Madras.
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